É
interessante observar a relação do homem com o tempo. Em cada época, a adaptação dessa relação
faz-se necessária. Mesmo assim, o homem não consegue entender esse eterno
companheiro em sua totalidade. O que antes era medido em luas, por exemplo,
hoje é medido em segundos, tamanha a rapidez com que as coisas acontecem. Tudo
é muito ligeiro. E urgente. A vida passa e as coisas acontecem com uma
fugacidade cada vez mais extrema. Os valores ensinados hoje se tornam
ultrapassados num piscar de olhos. Queremos novidades a cada instante. Isso faz
com que nos esqueçamos, muitas vezes, de preservar os valores que aprendemos e
o que de bom conquistamos.
A
luta desregrada por ter sempre mais e estar sempre em evidência acompanhando os
modismos da sociedade pode fazer com que vivamos na superficialidade. Tudo é
para agora. Em segundos, surgem coisas novas, e quem não se atualiza fica
ultrapassado. Perseverança está se tornando uma palavra antiquada.
Entretanto,
ao contrário de tudo isso, os valores espirituais precisam permanecer. Os
ensinamentos do catecismo, que recebemos na infância, serão os mesmos para a
vida toda. Vamos amadurecendo esses aprendizados e continuamos aprendendo, para
adquirirmos cada vez mais consciência e firmeza em nossa peregrinação terrestre.
Nossa lei espiritual é o Evangelho de Cristo. Devemos segui-lo com convicção,
mesmo se estiver na contramão da história.
Na
jornada da Igreja católica, muitos são os que continuaram no caminho certo,
mesmo à custa de sofrimentos ou da própria vida. Observando os filhos e filhas
de Deus na Igreja, testemunhamos a presença de pessoas que a frequentam durante
toda a vida. Enquanto dão conta, não perdem uma oportunidade de bendizer o nome
de Jesus, participar das celebrações, ajudar nos serviços paroquiais. E
quantos, depois de velhos, necessitando de ajuda para se locomover, lá estão,
todo fim de semana, cumprindo o dever de cristão católico. Em suas cadeiras de
roda, impelidos por mãos caridosas e ternas, aproximam-se da mesa da comunhão
para receber Jesus na Eucaristia.
Na
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, além dos cristãos leigos que perseveram
na vida religiosa enquanto possuem forças, como o fez minha mãe, temos ainda o
exemplo de vida do Padre Robson e do Padre Pedro.
Padre
Robson completou 89 anos no dia 22 de março. Já não tem destreza para andar
sozinho, nem para celebrar. Entretanto conserva a serenidade, a alegria e,
principalmente, a fé. Todos os dias, participa da celebração eucarística, conduzido,
quase sempre, por suas incansáveis irmãs. Está sempre nos brindando com seu bom
humor e ensinando-nos a persistir na direção do reino do Pai.
Padre
Pedro, 94 anos de entrega total a Deus. Figura singular que marcou a vida de
muitas pessoas, em Bom Despacho, com suas palestras de pura sabedoria nas
escolas e onde quer que o chamassem. Hoje, já com a saúde abalada e as vistas
cansadas, nem consegue acompanhar as leituras e orações pelo folheto. No
entanto a perseverança na fé e no sacerdócio o impele a participar da
Celebração Eucarística. É com ternura que o observo no altar. Firme, sereno,
alegre. As falas do padre, na Oração Eucarística, sabe-as todas de cor e vai
acompanhando o celebrante com propriedade.
A
oportunidade de acompanhar a trajetória desses dois padres é um incentivo para
que nós não desistamos da caminhada de fé. Não deixemos qualquer obstáculo ou
qualquer curva no caminho nos desviar de Deus. Continuemos firmes, pois a jornada
é difícil, “mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo”. (Mateus 24,13)
Luisa Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia" - abril de 2015
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