quarta-feira, 22 de abril de 2015

O dom da perseverança

É interessante observar a relação do homem com o tempo.  Em cada época, a adaptação dessa relação faz-se necessária. Mesmo assim, o homem não consegue entender esse eterno companheiro em sua totalidade. O que antes era medido em luas, por exemplo, hoje é medido em segundos, tamanha a rapidez com que as coisas acontecem. Tudo é muito ligeiro. E urgente. A vida passa e as coisas acontecem com uma fugacidade cada vez mais extrema. Os valores ensinados hoje se tornam ultrapassados num piscar de olhos. Queremos novidades a cada instante. Isso faz com que nos esqueçamos, muitas vezes, de preservar os valores que aprendemos e o que de bom conquistamos.
A luta desregrada por ter sempre mais e estar sempre em evidência acompanhando os modismos da sociedade pode fazer com que vivamos na superficialidade. Tudo é para agora. Em segundos, surgem coisas novas, e quem não se atualiza fica ultrapassado. Perseverança está se tornando uma palavra antiquada.
Entretanto, ao contrário de tudo isso, os valores espirituais precisam permanecer. Os ensinamentos do catecismo, que recebemos na infância, serão os mesmos para a vida toda. Vamos amadurecendo esses aprendizados e continuamos aprendendo, para adquirirmos cada vez mais consciência e firmeza em nossa peregrinação terrestre. Nossa lei espiritual é o Evangelho de Cristo. Devemos segui-lo com convicção, mesmo se estiver na contramão da história.
Na jornada da Igreja católica, muitos são os que continuaram no caminho certo, mesmo à custa de sofrimentos ou da própria vida. Observando os filhos e filhas de Deus na Igreja, testemunhamos a presença de pessoas que a frequentam durante toda a vida. Enquanto dão conta, não perdem uma oportunidade de bendizer o nome de Jesus, participar das celebrações, ajudar nos serviços paroquiais. E quantos, depois de velhos, necessitando de ajuda para se locomover, lá estão, todo fim de semana, cumprindo o dever de cristão católico. Em suas cadeiras de roda, impelidos por mãos caridosas e ternas, aproximam-se da mesa da comunhão para receber Jesus na Eucaristia.
Na Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, além dos cristãos leigos que perseveram na vida religiosa enquanto possuem forças, como o fez minha mãe, temos ainda o exemplo de vida do Padre Robson e do Padre Pedro.
Padre Robson completou 89 anos no dia 22 de março. Já não tem destreza para andar sozinho, nem para celebrar. Entretanto conserva a serenidade, a alegria e, principalmente, a fé. Todos os dias, participa da celebração eucarística, conduzido, quase sempre, por suas incansáveis irmãs. Está sempre nos brindando com seu bom humor e ensinando-nos a persistir na direção do reino do Pai.
Padre Pedro, 94 anos de entrega total a Deus. Figura singular que marcou a vida de muitas pessoas, em Bom Despacho, com suas palestras de pura sabedoria nas escolas e onde quer que o chamassem. Hoje, já com a saúde abalada e as vistas cansadas, nem consegue acompanhar as leituras e orações pelo folheto. No entanto a perseverança na fé e no sacerdócio o impele a participar da Celebração Eucarística. É com ternura que o observo no altar. Firme, sereno, alegre. As falas do padre, na Oração Eucarística, sabe-as todas de cor e vai acompanhando o celebrante com propriedade.

A oportunidade de acompanhar a trajetória desses dois padres é um incentivo para que nós não desistamos da caminhada de fé. Não deixemos qualquer obstáculo ou qualquer curva no caminho nos desviar de Deus. Continuemos firmes, pois a jornada é difícil, “mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo”. (Mateus 24,13)
Luisa Garbazza












Publicação do jornal  "Paróquia" - abril de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário