O azul da paz
A praia deserta convidava a um
passeio diferente. Com os pés na água que lambia a areia, parei e concentrei-me
na profunda tarefa de escutar o mar. As águas se misturaram ante meus olhos. As
ondas iam e vinham desenhando rostos: alegres, tristes, angustiados,
horrorizados, carregados de medo, sorridentes...
Fechei os olhos para me libertar daquelas
imagens. Inundaram-me os ouvidos gritos de alegria, lamentos, declarações de
amor, pedidos de socorro...
Deixei-me ficar até as ondas se aquietarem e o silêncio
invadir-me a alma.
Abri os olhos, que se fecharam
rapidamente impulsionados pelo reflexo do sol em uma pequena garrafa azul.
Abri-os novamente, bem devagar. Apanhei a garrafinha, retirei dela um pequeno
papel e, ao ler a mensagem, senti que o passeio valera a pena: “Tenha um dia de
muita paz.”
Luisa Garbazza
8 de março de 2015
Solidão
Todos os dias, ela saía de casa, no
mesmo horário, e se postava frente ao portão. Ficava ali, parada, sozinha,
perdida em seus próprios pensamentos. Depois de algum tempo, retornava a casa e
continuava a vida.
O marido observava-a de longe e não
tinha coragem para intervir. Doía-lhe o coração ver a esposa naquela situação.
Certo dia, há muito no portão, olhar
comprido na estrada, quando já se preparava para voltar à vida, seus olhos se
iluminaram: o filho querido regressara a casa.
Luisa Garbazza
15 de março de 2015
Adeus
Depois de ouvir o adeus de sua
amada, sentiu o chão abrir-se e ali imergir toda a sua esperança de vida. Ela
saiu, batendo a porta, despedindo-se com um “até nunca mais”. Ele ficou ali,
inerte, sem ação, mergulhado na mais profunda tristeza.
O apartamento, na beira da praia,
podia ser visto a distância. De dentro do barco, com o coração cheio de amor,
ainda sem assimilar realmente o que havia acontecido, fixou o olhar na lanterna
que deixou acesa perto da janela: última visão do lugar que, em sua
ingenuidade, achou que fosse o paraíso.
Luisa Garbazza
17 de março de 2015
Questão de gosto
Iva acordou disposta a descarregar a
angústia de dez anos de casamento. Em todo esse tempo, ela viveu em constante
irritação por causa do comportamento do marido: ele não reclamava de nada –
nunca! Tudo estava muito bom. Concordava com tudo. Não pedia nada. Por causa
disso, Iva fazia as coisas sempre do mesmo jeito. Por exemplo, o café da manhã.
Tinha o cuidado de coar o leite fervido para o marido, que sempre elogiava.
Naquele dia, resolveu fazer
diferente: preparou o café da manhã e fez questão de deixar o leite com
bastante nata. “Hoje ele vai reclamar.” – pensou ansiosa pela reação do marido.
Com os olhos arregalados, viu o
marido levar o copo à boca. Mas os nervos ficaram ainda mais à flor da pele
quando ouviu: “Que delícia! Eu amo nata de leite. Obrigado.”
O mundo veio abaixo. Não suportou. Desistiu,
pois, do marido e do casamento.
Luisa Garbazza
12 de abril de 2015
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