A devoção mariana, sempre presente
desde a formação do município através de Nossa Senhora do Bom Despacho,
tornou-se mais vivida e disseminada com a chegada dos Missionários
Sacramentinos de Nossa Senhora. Impulsionados pelo entusiasmo e pelo exemplo do
fundador, Padre Júlio Maria de Lombaerde, sdn, que sentia imenso amor por
Maria, vários movimentos, em alguns tempos mais evidentes, em outros mais
indefinidos, enaltecem a grande Mãe de Deus, Maria Santíssima. Na década de 1940,
o ideal mariano era aqui representado pelas “Filhas de Maria”, sob os cuidados
do Padre João Hellfs, sdn.
Dona
Maria conta que as “filhas de Maria” deviam se comportar e vestir-se como tal:
apresentavam-se todas de vestido branco, abaixo do joelho, com mangas pouco
acima do cotovelo; os sapatos eram brancos e as meias, também brancas, bem
compridas. Todo primeiro domingo do mês, reuniam-se em uma sala, na Santa Casa,
e na Capela, com a presença do Padre João. Nas poucas vezes que não pôde ir,
enviou o Padre Henrique Hesse, sdn. As reuniões constavam de conversas – em que
o padre ensinava como as moças deveriam se comportar – catequese, leitura e
partilha do Evangelho. Os momentos mais sublimes eram passados em adoração ao
Santíssimo Sacramento, na capela da Santa Casa. Aos sábados, rumavam-se para a
Igreja Matriz, onde participavam da reza do ofício.
Quando
demonstrava interesse em participar, a menina era acolhida no grupo como pretendente,
recebia uma fita verde e com ela ficava até decidir se queria mesmo ser uma “filha
de Maria”. Durante esse tempo, seu comportamento era observado para ver se
estava de acordo com o instruído. No tempo certo, em uma cerimônia belíssima e
muito aguardada, a menina fazia os votos: vestia-se toda de branco, prometia seguir
o que aprendera e entregava o coração à Maria. A alegria se completava ao receber
uma fita azul-celeste, com a medalha de Nossa Senhora das Graças, e o Manual
das Filhas de Maria.
Segundo
Maria José Maia, que também viveu esse momento em sua adolescência, “a fita era
linda, a medalha de Nossa Senhora era de prata, grande e bela”. Nossas duas
Marias contam que o Padre João também tinha a fita e usava-a em todas as
reuniões. Ele estava sempre presente e cobrava das meninas o jeito de viver e
de vestir-se. “Manga do vestido das Filhas de Maria são quatro dedos acima do
cotovelo.” dizia sempre.
Por
muito tempo, o movimento cumpriu seu objetivo: transmitir às meninas os valores
cristãos necessários para uma vida santa, seguindo os passos de Maria. O forte
era a oração e a prática da caridade. As moças iam ficando. Quando começavam a
namorar, eram aconselhadas a viver o namoro santo. No dia do casamento, uma
demonstração de alegria e companheirismo: as outras filhas de Maria iam todas à
cerimônia com a roupa tradicional – branca – e a fita azul no pescoço. Depois
do casamento, a moça seguia outro caminho. Já não fazia mais parte do
movimento. Mas, com certeza, Maria a acompanhava pela vida toda – não só na
fita, mas no coração – em cada passo de sua caminhada.
Luisa Garbazza
junho de 2014
Homenagem
à minha mãe, Maria da Conceição Garbazza, que, por toda a vida, observou os
preceitos aprendidos com o Padre João e foi para o céu, encontrar-se com sua
mãe, Maria Santíssima, alguns dias após ter compartilhado esses relatos.
Publicação do Jornal "PARÓQUIA" N. S. do Bom Despacho
julho de 2014
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