sexta-feira, 11 de julho de 2014

Filhas de Maria




            A devoção mariana, sempre presente desde a formação do município através de Nossa Senhora do Bom Despacho, tornou-se mais vivida e disseminada com a chegada dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora. Impulsionados pelo entusiasmo e pelo exemplo do fundador, Padre Júlio Maria de Lombaerde, sdn, que sentia imenso amor por Maria, vários movimentos, em alguns tempos mais evidentes, em outros mais indefinidos, enaltecem a grande Mãe de Deus, Maria Santíssima. Na década de 1940, o ideal mariano era aqui representado pelas “Filhas de Maria”, sob os cuidados do Padre João Hellfs, sdn.
            Pelas palavras de minha mãe, Maria da Conceição Garbazza, que, na época, morava com as irmãs, na Santa Casa, e participava do grupo, soube que o movimento “Filhas de Maria” era destinado a moças solteiras que desejavam viver de acordo com os valores marianos: pureza de coração, de corpo e de espírito, obediência e temor a Deus.
Dona Maria conta que as “filhas de Maria” deviam se comportar e vestir-se como tal: apresentavam-se todas de vestido branco, abaixo do joelho, com mangas pouco acima do cotovelo; os sapatos eram brancos e as meias, também brancas, bem compridas. Todo primeiro domingo do mês, reuniam-se em uma sala, na Santa Casa, e na Capela, com a presença do Padre João. Nas poucas vezes que não pôde ir, enviou o Padre Henrique Hesse, sdn. As reuniões constavam de conversas – em que o padre ensinava como as moças deveriam se comportar – catequese, leitura e partilha do Evangelho. Os momentos mais sublimes eram passados em adoração ao Santíssimo Sacramento, na capela da Santa Casa. Aos sábados, rumavam-se para a Igreja Matriz, onde participavam da reza do ofício.
Quando demonstrava interesse em participar, a menina era acolhida no grupo como pretendente, recebia uma fita verde e com ela ficava até decidir se queria mesmo ser uma “filha de Maria”. Durante esse tempo, seu comportamento era observado para ver se estava de acordo com o instruído. No tempo certo, em uma cerimônia belíssima e muito aguardada, a menina fazia os votos: vestia-se toda de branco, prometia seguir o que aprendera e entregava o coração à Maria. A alegria se completava ao receber uma fita azul-celeste, com a medalha de Nossa Senhora das Graças, e o Manual das Filhas de Maria.
Segundo Maria José Maia, que também viveu esse momento em sua adolescência, “a fita era linda, a medalha de Nossa Senhora era de prata, grande e bela”. Nossas duas Marias contam que o Padre João também tinha a fita e usava-a em todas as reuniões. Ele estava sempre presente e cobrava das meninas o jeito de viver e de vestir-se. “Manga do vestido das Filhas de Maria são quatro dedos acima do cotovelo.” dizia sempre.
Por muito tempo, o movimento cumpriu seu objetivo: transmitir às meninas os valores cristãos necessários para uma vida santa, seguindo os passos de Maria. O forte era a oração e a prática da caridade. As moças iam ficando. Quando começavam a namorar, eram aconselhadas a viver o namoro santo. No dia do casamento, uma demonstração de alegria e companheirismo: as outras filhas de Maria iam todas à cerimônia com a roupa tradicional – branca – e a fita azul no pescoço. Depois do casamento, a moça seguia outro caminho. Já não fazia mais parte do movimento. Mas, com certeza, Maria a acompanhava pela vida toda – não só na fita, mas no coração – em cada passo de sua caminhada.
Hoje, tanto Dona Maria da Conceição, quanto Maria José ainda guardam no coração lembranças daquela época de inocência e alegria que preencheram tão bem a adolescência de ambas. É emocionante nelas o brilho nos olhos, ao transmitir essas lembranças que, por causa da distância no tempo, vêm surgindo aos poucos, com calma, fazendo brotar dos lábios um sorriso de saudade e de gratidão por terem vivido tudo isso.
 Luisa Garbazza
 junho de 2014

Homenagem à minha mãe, Maria da Conceição Garbazza, que, por toda a vida, observou os preceitos aprendidos com o Padre João e foi para o céu, encontrar-se com sua mãe, Maria Santíssima, alguns dias após ter compartilhado esses relatos. 

Publicação do Jornal "PARÓQUIA" N. S. do Bom Despacho
julho de 2014

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