Às vezes, nesse vai e vem ininterrupto do mundo atual,
ficamos tão acostumados com o barulho excessivo que assustamos quando impera o
silêncio. Há os que nem conseguem ficar sozinhos. O silêncio incomoda. Vão logo
ligando rádio, televisão, computador. Mas precisamos tanto de momentos de
calmaria! Dar vazão aos sentimentos mais profundos, ouvir a consciência, deixar
que o coração se manifeste.
Em muitas ocasiões, fica difícil encontrar tempo e lugar
para esse "desligar-se do mundo". O nosso dia a dia é interligado com
o de outras pessoas, cada uma com horários, necessidades e preferências
distintas. Se eu desejo silêncio, o outro quer ouvir uma música em um volume
bem alto; se anseio aquietar-me, alguém quer sair pelas ruas exibindo o motor
possante de uma máquina qualquer; enquanto uns querem curtir sua tristeza, alguns
soltam fogos de artifícios para exteriorizar sua euforia; para manter a
modernidade, máquinas são ligadas em fábricas e residências. Além disso, há a
algazarra natural das crianças e dos adolescentes. E ainda, os ruídos internos
que muitas vezes nos atormentam: problemas para resolver, - outros sem solução
- lamentos, dores da alma. As horas vão se sucedendo, não conseguimos
vislumbrar um horizonte mais tranquilo e não nos permitimos - ou não nos
permitem - um momento só nosso, sem interferências.
Contudo, o que mais impressionou, foi o final da descida,
na última sala, de mais ou menos cento e quarenta metros. Como não há outra
saída, ficamos completamente isolados do mundo.
Naquele momento, o guia nos convidou para uma pequena experiência.
Pequena, mas que mexeu com as estruturas de muitos que ali estavam. Pediu que,
por alguns momentos, fechássemos os olhos e ficássemos todos bem quietos e sem
falar. Um estrondoso silêncio envolveu aquele lugar. Nada se ouvia. Nem um
ínfimo movimento - de algum inseto, talvez - ou o farfalhar de alguma folha,
nada.
Os ouvidos, desacostumados com o silêncio, estranharam no
início. Depois foram assimilando a realidade. De repente, era a alma que estava
sendo despertada. Impossível não sentir, naquele instante, uma forte presença
divina. Ali, naquele vazio absoluto, naquela ausência total de sons, Deus
estava presente. Nenhuma outra explicação, para os sentimentos que de mim se
apoderaram, iria me convencer.
Lamentei quando o guia nos trouxe de volta à realidade.
Desejei ter um tempo maior para continuar suspensa, buscar Deus cada vez mais
no meu interior, prolongar a paz que rapidamente me encontrou. Lembrei-me do
tempo de Jesus e das muitas vezes em que Ele se afastou da multidão para
procurar o silêncio, entrar em sintonia com o Pai e rezar. No entanto, a
realidade se impôs na fala das pessoas, no som dos passos e nas luzes das
câmeras. Começamos a subida e Deus se impunha, todo poderoso, em tudo naquela
gruta e no meu coração.
De volta à superfície, fiquei refletindo sobre a
dificuldade que temos hoje para nos silenciar - tão diferente do tempo de Jesus,
quando não havia tantas modernidades. Ao mesmo tempo, sei que isso é essencial
para nossa vida de fé. É nesses momentos de interiorização que sentimos a
presença de Deus, ouvimos seus apelos e encontramos coragem para nos colocar a
serviço.
Luisa Garbazza
Janeiro de 2014
Publicado originalmente no jornal "Paróquia"
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho
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