quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A outra face


A vida, no mundo dominado pela “era digital”, oferece infinitas possibilidades facilitando muito a nossa rotina. Mas, às vezes, provoca também o distanciamento entre as pessoas. Contrariando o projeto de Deus, muitos vivem isolados, sem participar da comunidade. Fazem tudo objetivando a própria comodidade sem priorizar ética, valores, regras de convivência. Correm o risco de colocar o egoísmo como personagem principal da história da vida e deixar esquecido alguém indispensável, merecedor de honras e pompas, pois sem ele não somos nada: o “outro”.
Desde o amanhecer da existência, antes mesmo de nascer, o ser humano é dependente de outro. Nascer, crescer, viver e conviver, são ações que exigem ajuda, companhia, mestres. Às vezes fico divagando sobre essa dependência em que vivemos. Em tudo e para tudo, muitas vezes inconscientemente, há sempre mais de um envolvido. Como exemplo, o pãozinho de sal. Esse componente básico, que ajuda a compor a maioria das mesas para o café da manhã, não foi parar ali sozinho. Pensemos bem, desde o início, no plantio do trigo, matéria-prima para se fazer o pão. Nem dá para estimar quantas pessoas foram envolvidas nesse processo. Plantio, colheita, beneficiamento, transporte, demais ingredientes, fabricação, vendas... é um longo caminho até chegar ao destino proposto. Por essa insignificante amostra podemos imaginar o imensurável número de pessoas que participam de cada minuto do nosso cotidiano. Imagine pela vida afora! Isso tudo, englobando apenas o lado material da vida. Nas dimensões psicológicas e espirituais precisamos igualmente de muita ajuda.
                Ao longo da vida, dure a medida que for, estamos sempre à procura de alguém que preencha  nossas lacunas, sossegue os anseios, complete os vazios. Aquele ser que nasce tão indefeso e que precisa de proteção integral vai, aos poucos e com o auxílio de muitos, amadurecendo, aprendendo uma infinidade de coisas, transformando-se com o passar do tempo, mas nunca se torna um ser acabado, pronto, definitivo. Por isso a dependência nos acompanha até o último momento.
                Com essa certeza, precisamos, mais do que nunca, procurar entender o verdadeiro lugar que o “outro” representa em nossa vida. Ele é a garantia de sobrevivência; é presença nos momentos de solidão; é companhia para falar, ouvir, cantar, chorar, silenciar; é quem nos faz perceber os erros, aprender a pedir perdão, repensar atitudes. Em alguns momentos podemos nos deparar com a presença de outra face que, por algum motivo, não nos seja muito bem quista. Porém, essa também é importante e merece nosso respeito. Observando-a podemos identificar características e valores com os quais não concordamos e refletir sobre a possibilidade de também nós os possuirmos. Serve como ponto de partida para uma mudança de postura e de atitude.
                Ao mesmo tempo, repensemos o quanto o outro precisa de nós. Somos importantes para muitas pessoas, necessários para algumas, imprescindíveis para outras. Uma simples palavra, pronunciada inconscientemente, pode influenciar bastante quem conosco convive. Pode enaltecer ou prejudicar e até destruir a vida de alguém. Portanto, é necessário pensar bem antes de agir e falar com ou sobre alguém. Ali está o outro, que também é dependente, precisa de ajuda para sobreviver, de presença para conviver, de companhia para suportar os reveses da vida.
                Assim sendo, por mais que nos pareça difícil a arte de bem viver, precisamos nos conscientizar sobre sua importância na busca por uma convivência justa e saudável. Carecemos entender que sozinhos não temos nenhuma chance de alcançar a tão sonhada felicidade. Nosso sucesso depende da capacidade de viver em união com as outras pessoas, de dar as mãos formando uma só corrente de harmonia e amor forte o suficiente para derrubar as barreiras do preconceito, da discriminação, da indiferença e do desamor.  
Luisa Garbazza
20 de agosto de 2012

Crônica originalmente publicada no jornal "Paróquia" 
 Paróquia N. S. Do Bom Despacho

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