A vida, no
mundo dominado pela “era digital”, oferece infinitas possibilidades facilitando
muito a nossa rotina. Mas, às vezes, provoca também o distanciamento entre as
pessoas. Contrariando o projeto de Deus, muitos vivem isolados, sem participar
da comunidade. Fazem tudo objetivando a própria comodidade sem priorizar ética,
valores, regras de convivência. Correm o risco de colocar o egoísmo como
personagem principal da história da vida e deixar esquecido alguém
indispensável, merecedor de honras e pompas, pois sem ele não somos nada: o “outro”.
Desde o
amanhecer da existência, antes mesmo de nascer, o ser humano é dependente de
outro. Nascer, crescer, viver e conviver, são ações que exigem ajuda,
companhia, mestres. Às vezes fico divagando sobre essa dependência em que
vivemos. Em tudo e para tudo, muitas vezes inconscientemente, há sempre mais de
um envolvido. Como exemplo, o pãozinho de sal. Esse componente básico, que
ajuda a compor a maioria das mesas para o café da manhã, não foi parar ali
sozinho. Pensemos bem, desde o início, no plantio do trigo, matéria-prima para
se fazer o pão. Nem dá para estimar quantas pessoas foram envolvidas nesse
processo. Plantio, colheita, beneficiamento, transporte, demais ingredientes,
fabricação, vendas... é um longo caminho até chegar ao destino proposto. Por
essa insignificante amostra podemos imaginar o imensurável número de pessoas
que participam de cada minuto do nosso cotidiano. Imagine pela vida afora! Isso
tudo, englobando apenas o lado material da vida. Nas dimensões psicológicas e
espirituais precisamos igualmente de muita ajuda.
Ao longo da vida, dure a medida que for, estamos
sempre à procura de alguém que preencha
nossas lacunas, sossegue os anseios, complete os vazios. Aquele ser que
nasce tão indefeso e que precisa de proteção integral vai, aos poucos e com o
auxílio de muitos, amadurecendo, aprendendo uma infinidade de coisas,
transformando-se com o passar do tempo, mas nunca se torna um ser acabado,
pronto, definitivo. Por isso a dependência nos acompanha até o último momento.
Com essa certeza, precisamos, mais do que nunca,
procurar entender o verdadeiro lugar que o “outro” representa em nossa vida.
Ele é a garantia de sobrevivência; é presença nos momentos de solidão; é
companhia para falar, ouvir, cantar, chorar, silenciar; é quem nos faz perceber
os erros, aprender a pedir perdão, repensar atitudes. Em alguns momentos
podemos nos deparar com a presença de outra face que, por algum motivo, não nos
seja muito bem quista. Porém, essa também é importante e merece nosso respeito.
Observando-a podemos identificar características e valores com os quais não
concordamos e refletir sobre a possibilidade de também nós os possuirmos. Serve
como ponto de partida para uma mudança de postura e de atitude.
Ao mesmo tempo, repensemos o quanto o outro precisa
de nós. Somos importantes para muitas pessoas, necessários para algumas, imprescindíveis
para outras. Uma simples palavra, pronunciada inconscientemente, pode
influenciar bastante quem conosco convive. Pode enaltecer ou prejudicar e até
destruir a vida de alguém. Portanto, é necessário pensar bem antes de agir e
falar com ou sobre alguém. Ali está o outro, que também é dependente, precisa
de ajuda para sobreviver, de presença para conviver, de companhia para suportar
os reveses da vida.
Assim sendo, por mais que nos pareça difícil a arte
de bem viver, precisamos nos conscientizar sobre sua importância na busca por
uma convivência justa e saudável. Carecemos entender que sozinhos não temos nenhuma
chance de alcançar a tão sonhada felicidade. Nosso sucesso depende da
capacidade de viver em união com as outras pessoas, de dar as mãos formando uma
só corrente de harmonia e amor forte o suficiente para derrubar as barreiras do
preconceito, da discriminação, da indiferença e do desamor.
Luisa Garbazza
20 de agosto de 2012
Crônica originalmente publicada no jornal "Paróquia"
Paróquia N. S. Do Bom Despacho
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