segunda-feira, 25 de junho de 2012

Diagnósticos


Certos acontecimentos na vida, esses que surgem do nada, sem nos darmos conta, causam tamanho desarranjo que abalam consideravelmente nossa estrutura emocional. Passei por um, bem nesses moldes, recentemente.
Vivi as últimas semanas voltada quase exclusivamente para o encontro de casais. A rotina muda, as atividades se intensificam, reuniões se sucedem... Quando chegou o dia propriamente dito já estava cansada. Foram três dias muito frios e, como tenho a saúde frágil, os resultados não foram muito positivos para mim. Tive um forte resfriado, acompanhado por febres altíssimas que me derrubou. Passei a noite de domingo e a segunda-feira com febre cada vez mais intensa. No início da noite, o Flávio, meu esposo, levou-me ao hospital. Muito desagradável a espera. Não tinha forças nem para manter os olhos abertos. Quando chegou a minha vez, o médico examinou-me, passou-me para um quarto de observação e, na manhã seguinte, para a internação.
Durante a noite o médico pediu um exame de sangue e uma radiografia do tórax. Fez um diagnóstico sugestivo de pneumonia e medicou-me adequadamente.
No quarto do hospital foi horrível. Sentindo mal, muitas dores, febre, uma água quente a escorrer-me pelos olhos, que era confundida com lágrimas, sem ânimo algum e sozinha – não permitiram a permanência do Flávio. E o pior, uma enxurrada de pessoas – enfermeira, técnica de enfermagem, nutricionista, psicóloga, médico, acompanhantes de outros internos – todos com uma chuva de perguntas que eu respondia com meias palavras, pois além de total debilidade estava quase sem voz. O único refrigério foi a hora de visitas em que tive a companhia do Flávio e do meu filho, Rafael.
Mas a angústia havia apenas começado. À noite, ainda sem melhoras, estranhei a chegada apavorada de uma enfermeira que começou a recolher minhas coisas de maneira urgente e disse que ia me levar para outro quarto. Juntou tudo, retirou o soro do suporte e saiu me puxando. Fui cambaleando, segurando aqui e ali, tonta, até chegar ao novo destino – um quarto pequeno e estreito. Como não estava em condições de questionar, limitei-me a deitar sem entender o que estava acontecendo. “Você vai ficar aqui até descobrir o que você tem.” Ela saiu, fechou a porta e retornou logo depois com um recipiente plástico. Passou-me as instruções para colher secreções do escarro por três dias consecutivos, e tornou a sair. Nesse momento entendi tudo: pensavam que eu estava com tuberculose. Comecei a entrar em pânico, mas parei e tive a certeza de que esse não era um motivo para preocupação. Graças a Deus eu não tenho essa doença. A experiência nos ensina. Já tive outras crises iguais a essa.
Acordei bem mais disposta no outro dia e colhi o material para exame. Mas tenho que confessar que mesmo sabendo do erro no diagnóstico, passar o dia sozinha naquele quarto foi bem desgastante. Um ventilador silencioso; um televisor falando sozinho; uma janela com pouca abertura que se descortinava para outras iguais; e, em frente à cama, uma parede neutra que me devolvia imagens que se tornavam reais sempre que meus olhos se fechavam – delírios nos momentos de extrema fraqueza. Na hora de visitas, o Flávio e o Rafael apareceram com máscaras causando-me certo estranhamento.
Passei o dia ali, quase sem assistência e sem medicamentos, pois o médico só apareceu à noite. Acabei descontando nele todo o nervosismo e a angústia de um dia tão obscuro.
O dia seguinte não foi muito diferente. Apesar de receber assistência e medicação devidamente, o lugar não ajuda. A porta fechada; a máscara em cada profissional que entra; a placa na porta do quarto – isolamento; a cara das pessoas – dá para perceber quando alguém abre a porta; a falta de visitas, que são barradas na portaria. Até o Flávio e o Rafael foram barrados e tiveram que argumentar para conseguirem chegar até mim. Constrangimento total.
Quando o resultado do exame saiu – NEGATIVO, a música ganhou novos acordes. O discurso mudou completamente. Porém, nada será suficiente para mudar os efeitos de uma atitude tão imponderada.
Isso também acontece em nossa rotina de vida. Muitas análises são feitas sem pensar. Muitas palavras inconsequentes são ditas – ou mal ditas. E assim vamos deixando para trás oportunidades de viver cada dia de maneira mais amena. Vamos perdendo oportunidades de aproveitar as coisas simples da vida e enfrentar os obstáculos com mais esperança e fé. Isso tudo vai ficando para trás em cada “diagnóstico precipitado”, em cada palavra mal interpretada, em cada perspectiva perdida.
Luisa Garbazza – 25 de junho de 2012

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