sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Rotina feliz

        Curioso e intrigante é ver como convivemos com o tempo. Muitos o têm como amigo e outro tanto, quase como inimigo. Alguns são escravos, outros o tratam com indiferença. Há ainda os que querem o tempo sempre ao seu favor. Assim, no dia a dia em que vai se dissipando nossa existência, transparece, pelo menos em algum momento da vida, certa insatisfação a respeito do tempo.
        Em cada fase da vida o tempo tem um valor peculiar. É a infância com seu encanto próprio, horas que passam lentamente, sem indagações, como magia. É a fase da adolescência e da juventude, quando o tempo nunca é suficiente para fazer tudo que almeja. São os adultos aproveitando  cada ocasião para colocar as coisas em seus devidos lugares. E a velhice, época em que se tem a impressão de que o tempo parou. Contudo, na adolescência e juventude a sucessão das horas é mais questionada. Trava-se uma luta severa contra esse inimigo invisível que teima em contrariar as vontades, enganar as previsões, trair os decretos. Tudo nessa fase é urgente. O amanhã é agora. Depois, é tarde demais.
        Um detalhe que me chama à atenção é o modo como os jovens brigam com o tempo. Principalmente com os dias da semana. Ninguém gosta da segunda-feira. Os dias da semana se arrastam numa lentidão enorme deixando todos ansiosos. A sexta-feira é comemorada com palmas, fogos e folguedos. O final de semana passa rápido demais, domingo à tarde já é o fim do mundo. E a segunda retorna - mal amada, triste, pesadona. Parece até que tem culpa de algum infortúnio que possa acontecer, ou não acontecer, na vida de alguém. E quando o final de semana passa e não acontece nada de extraordinário? Ou acontece algo negativo desmoronando algum sonho? Aí, a espera pelo próximo fica ainda mais penosa. A segunda será mais desprezada e cada hora é contada com aflição à espera de uma nova oportunidade.
        Nesse sentido, faz-se necessário uma reflexão sobre tempo e vida. A vida é o nosso dom mais precioso e o tempo é nosso aliado na arte de bem vivê-la. Saber viver bem é valorizar cada dia como único. Valorizar cada hora do dia sem querer que ele se esvazie rapidamente para um novo amanhecer. Agir conscientemente apreciando cada tarefa, tenha a dimensão que tiver. Desde um sorriso dado até o ofício mais complexo, cada ato faz parte do momento de agora e deve ser realizado com alegria e esmero.
        Outro ponto que merece destaque é a rotina. Essa nossa companheira deve ser amada também, por que não? Nossos dias passam rápido, cada um com uma movimentação diferente. Não temos novidades, festas, encontros, baladas, trabalhos, companhias todos os dias. Nem temos resistência para tanto. Necessitamos de períodos de descanso para relaxar o corpo e a mente, para pensarmos sobre nossos atos, para programar o futuro.
     A rotina é indispensável para nossa existência e precisamos aprender a gostar dela. E principalmente gostar do que fazemos. Se hoje é segunda ou terça-feira e estamos sobrecarregados de tarefas, façamos uma a uma, com a cabeça erguida e a certeza de que aquele momento é único em nossa vida. Seja o trabalho mais ínfimo, mas que seja realizado com amor para nos proporcionar o prazer do dever cumprido e nos deixar com a consciência tranquila.
        Nessa passagem exclusiva da vida, quem não gosta da rotina é porque ainda não aprendeu a gostar de si mesmo. A rotina incomoda os que têm dificuldade de conviver consigo mesmo e precisa ter sempre alguém ou algo novo para preencher o vazio deixado pela falta de amor próprio. Enquanto buscarmos nossa realização pessoal em outras pessoas e em outras coisas, de preferência novas a cada dia, a rotina vai ser um fardo por demais pesado e dará trabalho para carregar. Quando percebermos que a alegria está dentro de nós mesmos e na maneira de enfrentar as vicissitudes da vida, cada dia terá seu encanto e seremos muito mais felizes.
Luisa Garbazza
03 de fevereiro de 2012

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