sábado, 11 de outubro de 2025

Peregrinar

 


Mês de outubro é mês de intensa espiritualidade para nós, cristãos católicos. Entre tantos santos celebrados neste mês, unimo-nos, como nação, para celebrar a festa da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. E como outubro é o mês missionário, alegramo-nos com a festa de santa Teresinha, padroeira das missões. Em suma, outubro é tempo de peregrinar, sair de nosso comodismo e assumir uma missão.

Peregrinar é o que o Pe. Antônio faz todo ano com os devotos de Nossa Senhora Aparecida. Mas é também o que faz em setembro, a Manhumirim, com os devotos do Servo de Deus Júlio Maria De Lombaerde, por ocasião do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Manhumirim.

Em 2025, saímos em peregrinação dia 11 e retornamos dia 14. Foram dias de intensa espiritualidade, sem perder a leveza e a alegria fraterna. Nessa peregrinação, tivemos a oportunidade de beber de várias fontes que muito nos enriqueceram: ouvimos o Pe. José Raimundo da Costa, sdn (Pe. Mundinho), falando da congregação e do Capítulo Geral, que se aproxima; o Pe. Marcos Antônio Belizário, sdn, que nos levou a aprofundar nosso conhecimento sobre o Pe. Júlio Maria; o Pe. Heleno Raimundo da Silva, sdn, que nos transportou no tempo para conhecer o Memorial Padre Júlio Maria; o Pe. Matheus Garbazza, sdn, que nos relatou os acontecimentos dos últimos dias de vida do Pe. Júlio Maria, bem como a bela reforma feita na Igreja Santo Antônio, demarcada pelo fundador, pouco antes de seu falecimento; do Pe. Antônio Otaviano, sempre nos orientando, nos alegrando, nos conduzindo. Também tivemos a presença descontraída do Pe. José Estevam de Paiva, sdn.

A festa do Senhor Bom Jesus, foi um ponto alto em nossa peregrinação, principalmente a celebração da noite. A participação de tantos romeiros, a celebração cuidadosamente preparada, a emoção inevitável no momento da entrada do Senhor Bom Jesus, a voz de Deus por meio da Palavra, proclamada e dita, tudo converge para o aprofundamento de nossa fé. Quem participa dessa peregrinação, presente de corpo e alma, retorna mais consciente de seu dever como cristão e sente-se pronto para a missão. Outubro nos chama. Caminhemos com fé e esperança, pois, como refletimos nos mês da Bíblia, “a esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Luisa Garbazza

Outubro 2025
Publicação do Jornal Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho


terça-feira, 16 de setembro de 2025

 


Setembro chega, despertando em mim muitas sensações e sentimentos especiais. Não só por ser o mês em que Deus me concedeu o dom da vida, mas também pelo ar de esperança que ele nos traz. É a primavera que chega e nos mostra que tudo pode se renovar. As plantas ganham nova roupagem, o verde ganha vida e a natureza nos brinda com o colorido das flores. Nós também precisamos nos sentir renovados, tanto emocional quanto espiritualmente, para seguirmos com mais firmeza e convicção de nossos atos.

Para nos impulsionar à renovação de nossa vida espiritual, a Igreja sempre nos oferece motivos e conteúdos que nos levam a refletir e buscar novos pontos de partida. Já é setembro, e muitas pessoas ainda não se deram conta de que estamos em um ano jubilar, que nos motiva a viver, de forma mais intensa, a esperança em Deus. O “Jubileu da esperança” nos dá a oportunidade de rever nosso modo de agir, buscar o perdão de Deus e, se necessário, traçar novos caminhos. E ainda conseguir indulgências para as ações que não foram favoráveis ao querer divino.

Assim chega setembro, com a Igreja oferecendo-nos mais uma ocasião para avivar nossa fé e melhorar nossa vivência cristã: as reflexões sobre o mês da Bíblia, que nos propõe a leitura da “Carta de São Paulo aos Romanos”. Propício para o ano jubilar, o tema “A esperança não decepciona” (Rm 5,5) nos ajuda a entender que somos um povo guiado e amado por Deus, nosso Pai, sempre disposto a nos orientar e a nos ajudar a trilhar os caminhos por Ele traçados. Ou nos ajudar a voltar para tais caminhos, se acaso deles nos desviarmos.

Ao refletirmos sobre a “Carta de São Paulo aos Romanos”, percebemos o quanto precisamos valorizar o modo cristão de agir e de pensar, tanto como pessoa como na comunidade ou fora dela. Sabemos que, se permanecermos firmes na fé, “nada poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8,39). Assim, revestido pela força e pela alegria da primavera, podemos aproveitar bem o final do ano jubilar com a certeza de que “a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Rm 5,5).

Luisa Garbazza 

Setembro de 2025

Publicação original “Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho”.


sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Esperança na família

 


           Estamos no ano jubilar. Somos peregrinos de esperança a caminho do céu. Nossa esperança maior é Cristo, sem dúvida alguma. A esperança primeira, aqui na terra, no entanto, é a família. É nela, e por meio dela, que podemos formar cristãos conscientes e comprometidos com o projeto de Deus, para o ser humano e para toda a criação.

A criação de Deus é algo sagrado. A família, também criação divina, é algo muito sagrado. Deus criou o homem e a mulher para a base familiar. E quis que seu filho nascesse no seio de uma família. Maria deu à luz a própria Luz, Jesus, o filho de Deus encarnado. José o acolheu como filho. Juntos cumpriram a sublime, mas difícil missão de criar, educar e amar o divino menino.

Tal qual Maria e José, o homem e a mulher, com a graça de Deus, recebem os filhos no ambiente familiar, onde a vida faz mais sentido. Com os filhos, vem a missão maior: criar, educar, amar e, acima de tudo, evangelizar. Quem ama cuida, alimenta, dá carinho. Quem ama ensina os valores da vida cristã e da fé católica, que inclui a presença constante de Jesus, Maria e José a indicar os caminhos.

O caminho proposto pela Igreja, neste ano jubilar, é o caminho da esperança. A família, tão necessitada de força e coragem para resistir aos ataques mundanos, precisa nutrir em si a expectativa por um mundo melhor, mais humanizado. Precisa ter confiança em tempos de mais amor, união, carinho entre as pessoas, certeza da graça santificante de Deus Pai.

A graça de Deus nos impulsiona a ter esperança, acreditar que podemos ser sementes do bem, nutrir em nós essa graça e frutificar. Saber que, por meio do amor a Deus, somos capazes de esperançar nossa família e as famílias com as quais convivemos. Um lar onde se vive a unidade, a exemplo do lar sagrado, em Nazaré, é modelo e pode dar testemunho de que é possível viver bem, com amorosidade, respeito e temor de Deus. E assim contagiar outros lares.

Deixemo-nos contagiar pelo exemplo da Família de Nazaré. Sejamos promotores de esperança no seio de nossos lares. Pela graça de Deus, sejamos multiplicadores, levando esse sentimento aonde for preciso. E, acima de tudo, acreditemos que a maior esperança está na família, com a qual caminhamos como peregrinos rumo ao céu.

Luisa Garbazza

Agosto de 2025


domingo, 10 de agosto de 2025

Amor de pai

 

                        Luisa Garbazza

 

Na figura do pai,

o reflexo do amor espelhado no rosto do filho;

no olhar do pai,

a expressão da mais sublime afeição;

no sorriso do pai,

a demonstração da alegria pura, que brota da alma;

na mão do pai,

a certeza da presença, do equilíbrio, do amparo;

nos passos do pai,

a segurança para as pegadas do filho;

no abraço do pai,

o encontro de almas, a segurança, o aconchego;

na companhia do pai,

outra vida que divide os mesmos caminhos,

que aprende, que se afirma como ser,

depois busca seu próprio caminho.

 

Na ausência do pai,

a saudade, as lembranças, as marcas deixadas,

a força do amor que permanece.

 

A você, pai, força que move a família, presença que marca, que conduz, que ensina, que impulsiona: o nosso reconhecimento.

Nossa gratidão por sua missão tão sublime de transmitir a vida e de enriquecê-la com seus ensinamentos.

A você, nosso abraço de feliz “Dia dos Pais”.

Parabéns!


Homenagem aos pais ao final da Celebração Eucarística das 9h na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho.

Luisa Garbazza


sábado, 26 de julho de 2025

De trilha em trilha

 


Morávamos em um sítio bem espremido entre fazendas e uma indústria de siderurgia. Família de prole numerosa: pai, mãe e 10 filhos. Uma escadinha de crianças, conforme se diz aqui por estes lados do país. A criançada se divertia na área do sítio e nos arredores. Era uma verdadeira aventura a cada dia.

As saídas do sítio eram todas por meio de trilhas, a maioria ladeada por árvores frondosas: trilha para ir à cidade, trilha para ir às casas dos vizinhos, trilha para ir à mina buscar água para beber, trilha para ir à escola... Quando saíamos todos, ou vários, formava-se uma fila e caminhávamos acompanhando o ritmo do cabeça. Pela falta de energia elétrica, raramente saíamos após o entardecer. Esse momento era reservado para reuniões familiares, muitas vezes em volta de uma fogueira. Cada noite um momento diferente. Ora brincadeiras de corre-corre, ora de roda, ora de esconde-esconde... Ou então, a hora das histórias. Nossa mãe possuía o dom de contar histórias: reais ou imaginárias, reproduzidas ou inventadas. Os olhos da meninada brilhavam com as narrativas. E se arregalavam com as façanhas da mula sem cabeça e do enigmático saci-pererê. A mula sem cabeça era vista com respeito e com medo; o saci-pererê, com curiosidade.

O efeito desses dois seres do nosso folclore na vida da criançada era enorme. Nas noites escuras, sem luar, quando ficávamos na cidade até mais tarde, a volta era penosa. Nas trilhas que nos conduziam a casa, o medo reinava. Medo do que poderíamos encontrar pelo caminho. – E se aparecesse a mula sem cabeça botando fogo pelas ventas? – Nesse estado de tensão, ninguém queria ser o primeiro da fila, muito menos o último. A volta tornava-se longa demais. Na pressa de sairmos do negrume da noite, às vezes até tropeçávamos uns nos outros, quando o da frente dificultava os passos. A chegada era sempre motivo de grande alívio.

No dia a dia, na lida da vida, ocorria de sairmos à tardezinha, para fazer visitas ou pedir emprestado algum gênero de primeira necessidade nos vizinhos – sempre distante – ou para buscar água na mina. Algumas vezes, era necessário alguém sair sozinho. As sombras da tarde, que iam se espalhando, cobrindo tudo muito rápido para a chegada da noite, causava calafrios e traziam à tona o medo dos seres mitológicos. Aí o inevitável acontecia...

Certa noite, a irmã mais velha, que havia saído para pedir açúcar emprestado, chegou a casa sem fôlego, sem conseguir falar, branca como cera. E por algum tempo, assim permaneceu. Quando conseguiu balbuciar alguma coisa, aguçou nossa curiosidade. Aos poucos começamos a entender o que havia se passado.  “Avistei uma mulher estranha... ela esticava e encolhia. Olhava para um lado e a mulher estava lá, pequena igual anã. Aos poucos, ela ia se espichando e ficava mais alta que as árvores. Depois aparecia do outro lado, bem à frente, e ficava encolhendo e espichando. E assim durante todo meu caminho. Quase morri de medo!” Daí em diante, a mulher “que espicha e encolhe” foi alvo do medo da criançada. Quem saía ao entardecer já ia com os olhos arregalados, temendo encontrá-la pelo caminho.

Na semana seguinte, quando a tal mulher já começara a cair no esquecimento, o caso se repetiu, em outras proporções. Chegaram dois irmãos, que saíram à noitinha para buscar água. Estavam muito assustados! Nas vasilhas, apenas um pouco de líquido. A mãe indagou: “Onde está a água? O que aconteceu?” Com a respiração ainda ofegante, um deles respondeu: “Pegamos a água, mamãe. Mas, quando a gente voltava, vimos uma mulher vestida de branco em cima de uma árvore. Ela abria e fechava os braços, chamando a gente. Corremos de medo, tropeçamos e deixamos a água cair.” Vários pares de olhos se arregalaram ao mesmo tempo.

A vida no sítio seguiu plena, com suas histórias, seus passeios noturnos, seus medos. A mulher de branco, esta não caiu no esquecimento muito fácil não. Apareceu novamente, também para outras crianças, por um longo tempo.

Luisa Garbazza

2025

 

Um pouco das minhas lembranças de infância.

(A foto, tirada recentemente, é de uma das trilhas por onde andávamos.)


quarta-feira, 9 de julho de 2025

Bodas de aventurina

 



Quão bela a natureza, que produz tanta beleza, obras da criação. Aventurina é assim, pedra rara, em tons verde do veludo, que encantam e a tornam tão cobiçada.

Quando a vida a dois se torna “aventurina”, é sinal de que já coloriram a existência de muitos tons, a começar pelo branco ou pardo do papel, passando pelo prata, perolado, até chegar a esse verde aveludado, tão agradável ao olhar.

Assim somos nós, Flávio e eu. As bodas de papel parecem tão distantes!... Algodão, flores, papoula... Tudo tão frágil! Como frágil é o amor, que precisa ser alimentado para não se desvanecer. Nas bodas de ônix, o amor cravado na pedra, a certeza de que não dava mais para voltar atrás. Não sem “quebrar” a vida.

O tempo passou muito depressa! Seguimos juntos, ano a ano, celebrando o amor, a convivência, as alegrias e tristezas, os filhos - nosso maior bem.

Hoje a aventurina vem enfeitar de verde nosso viver. São trinta e sete anos de vida a dois, a três, a quatro. Quanta alegria compartilhada! Quantas brincadeiras e aventuras! Quanto amor! Amor sentido, repartido, cultivado, cravado no coração de cada um. Houve intempéries, sim. E algumas lágrimas. Mas o riso sempre volta à face dos enamorados, dos que colocam seu destino nas mãos de Deus.

Hoje é dia de ação de graças. Gratidão a Deus por nos permitir construir essa história, que começou na presença dele. E lá voltamos, ano após ano, para que a bênção seja renovada, revivida no coração, cravada na alma, de onde não pode ser descartada.

Obrigada, meu Deus, pelo carinho e pela presença em nossa vida.

Obrigada, Flávio, por dividir comigo cada momento de minha existência nesses 37 anos.

Obrigada, Matheus e Rafael, por me ajudarem a construir nossa família e pela sintonia de alma.

Amo. Amo muito cada um, cada dia, cada ano, cada capítulo dessa história, que seguirá até onde Deus quiser.

Gratidão.

Luisa Garbazza

9 de julho de 2025




sábado, 7 de junho de 2025

Jesus Eucarístico e a Mãe da Eucaristia

 

Saber que Jesus está realmente presente na Eucaristia é o maior mistério e a maior alegria que nós, católicos, experimentamos. Ali está o Corpo de Cristo transubstanciado. Como parte de sua entrega total, Cristo nos doou também seu próprio Corpo para servir de alimento, verdadeira comida, sustento e remédio para nossa vida. Quando falamos em Jesus Eucarístico, trazemos à memória a Mãe de Jesus com o título de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Maria, que foi o sacrário que primeiro abrigou Jesus aqui na terra, continua por perto, guardando o Corpo místico de Jesus.

Nós, da Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho, paróquia sacramentina, adoradora do Coração Eucarístico de Jesus, como nos ensinou o Pe. Júlio Maria, temos a honra de ter Maria da Eucaristia como intercessora e também padroeira. No último dia 13, tivemos a alegria de ver a imagem de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento fazer parte de nossos altares. Em uma festa linda, preparada e vivida com muita espiritualidade, celebramos a novena em preparação para essa festa com o tema “Com Maria, Peregrinos de Esperança no Banquete da Vida”. Foram nove dias acompanhando Maria, rezando e meditando o significado místico de cada símbolo da imagem: a mão estendida, gesto de acolhimento; o cálice e a hóstia, importância da Eucaristia na vida cristã; os pés descalços, sinal de humildade e missão peregrina; a faixa azul de Maria, pureza, e a faixa dourada do Menino Jesus, Rei dos reis; as flores douradas, pureza; o rosário, importância da oração.

A festa da entronização teve uma importância primordial para nossa comunidade paroquial. A presença da Mãe da Eucaristia em nossos altares reforça nossa fé no Coração Eucarístico de Jesus, nossa pertença a uma paróquia sacramentina e nossa devoção ao Servo de Deus Júlio Maria De Lombaerde.

Essa festa foi além da entronização da imagem. Fomos preparados espiritualmente também para celebrarmos, no mês de junho, a festa de Corpus Christi: Jesus Eucarístico, presença viva no meio de nós, abençoando nossa paróquia, nossa cidade, nossa gente. Quando sairmos pelas ruas, acompanhando Jesus Eucarístico, poderemos ter a certeza de que a Mãe da Eucaristia caminha conosco, distribuindo suas bênçãos de Mãe amorosa.

Luisa Garbazza

Jornal Paróquia – junho 2025