Nos pequenos gestos do dia a dia, vamos construindo
nossa história. Assim também com a nossa fé, construída aos poucos pela vida
inteira. São pequenos gestos, detalhes que às vezes passam despercebidos, que vão
contribuindo para a formação da comunidade cristã, peregrina neste mundo,
desejosa de um novo céu e uma nova terra.
São sinais assim que pude observar na noite do dia
oito de dezembro de 2017, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho.
Era dia da Imaculada Conceição. A igreja cheia louvava, mais uma vez, a Virgem
Mãe de Deus. Terminada a celebração, o Padre Antônio convidou a assembleia para
frente, no entorno da imagem de Nossa Senhora. Ali seria feita a oração em
louvor à santa e a benção final. Depois formou-se uma fila de fiéis para uma
conversa a sós com a Mãe do Céu. Cada um a seu tempo e do seu jeito, todos
foram se aproximando... Os gestos, as orações, os olhares das pessoas
confirmavam a fé que as movia. A fé em Maria, Mãe de Deus, e em sua Imaculada
Conceição. A fé em sua capacidade de interceder por nós ao Pai. A fé na certeza
de que ela realmente nos ajuda a atravessar os vales de lágrimas que,
inevitavelmente, fazem parte de nossa caminhada.
Quando me aproximei da imagem, contudo, o que me
falou ao coração foi o olhar da própria Maria. Por alguns instantes, senti-me
presa, como se ela estivesse olhando dentro de minha alma, apesar de estar com
os olhos voltados para o alto. Nesse dia, nessa hora, havia algo de diferente
naquele olhar, embora eu, em minha pequenez, não tenha conseguido decifrá-lo.
Sei apenas que havia vida naquele olhar piedoso e suplicante dirigido aos céus.
Fico imaginando o olhar de Maria, neste início de
ano. Com certeza, olha para este mundo, tão diferente do projeto de Deus, e se
entristece. E suplica ao Pai celeste que tenha piedade de seu povo. Pede
misericórdia para os pobres que têm de se contentar com um trabalho mal
remunerado e uma vida restrita, sem direito a lazer, saúde e educação de
qualidade. Misericórdia das crianças entregues às ações sem limites de uma
globalização sem regras nem censura. Dos jovens que crescem nesse mundo
digital, bombardeados pelas redes sociais e pelas drogas que atingem todas as
esferas da sociedade. Misericórdia das famílias que enfrentam tantos problemas
para edificar uma família cristã, sofrendo as consequências de um estado laico
e incrédulo. Misericórdia do nosso Brasil, tão massacrado pela corrupção que
leva à revolta e à violência cada vez mais crescente. Do mundo, que, ao invés
de procurar o caminho para a paz, mostra-se cada vez mais egoísta e ganancioso,
em uma guerra permanente pelo poder e pela riqueza.
Em 2018, vamos unir nosso olhar ao de Maria e
suplicar ao Deus da vida que tenha compaixão de nós. Ajude-nos a não desanimar.
A acreditar que a fé e a oração podem transformar o mundo. Peçamos que este
seja realmente um novo ano. Que as pessoas se olhem com mais amor. Que possamos
entender melhor as palavras de São Paulo na primeira carta aos Coríntios – "Ainda que eu falasse as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o
címbalo que retine." – e assim fazer a nossa parte para ver o mundo
mais humanizado e temente a Deus. Amém.
Luisa
Garbazza
Publicação do Jornal "Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho".
Janeiro de 2018
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