segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Urgências de fim de ano

Muito já ouvimos falar em “sinais dos tempos”. Percebemos isso no dia a dia. Cada tempo tem os seus sinais. Estamos vivendo agora o tempo das urgências: todos têm pressa; a paciência fica em segundo ou terceiro plano; ninguém pode esperar. Mas ultrapassar o tempo, isso não podemos. Senti essa urgência exagerada neste ano: novembro ainda nem figurava no calendário quando as lojas começaram a exibir os primeiros enfeites de Natal.
Quando saí pelas ruas no finalzinho de outubro e vi luzes piscando em uma loja, achei que havia alguma coisa errada. Mais alguns passos. Outra loja com enfeites de Natal. E não era para vender, e sim para enfeitar a loja mesmo. Em algumas casas, os famosos pisca-piscas já funcionavam. Fiquei perplexa. Ainda faltavam dois meses para a data e já estavam se preparando. Ainda nem estávamos no Advento e já se preparavam. Aprontavam vitrines coloridas, chamativas, principalmente sob os olhares das crianças, que já começam a exigir esse ou aquele presente. As lojas cheias, barulhentas, iluminadas, já se diziam preparadas. Não para essa grande festa, com certeza. Preparados, sim, para a materialização dessa festa.  Uma pena! Quisera se preparassem para o verdadeiro Natal, aquele que começa com o Advento, passa por um período de análise de vida e conversão e chega ao presépio, para adorar o Menino que acaba de nascer.
Longe do burburinho das ruas comerciais do centro da cidade, o pensamento vai além das urgências. Fico imaginando as diferenças sociais neste mundo tão desigual... Enquanto para uns a urgência é o leite e o pão, para outros é o que vai servir de diferente nas festas natalinas; se para uns é urgente uma roupinha para o filho vestir, outros gastam fortunas em roupas que serão usadas apenas uma vez; uns irão às ruas apenas olhar as vitrines, deixar os filhos se encantarem com o colorido da cidade, enquanto outros saem das lojas com mais compras que os braços conseguem carregar. Nesse sentido, podemos enumerar ainda algumas diferenças e inúmeras urgências supérfluas que preenchem o universo dos endinheirados.
O pensamento vai mais longe... A alma torna-se criança: “Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino do Céu.” já nos dizia Jesus. Se o mundo fosse governado por uma criança, tudo seria mais humano, mais simples, mais igual. A pureza de coração dos pequenos é visível na facilidade com que se aproximam uns dos outros, na simplicidade com que se misturam, combinam as brincadeiras, trocam os brinquedos, dividem seus lanches.
Assim, como em um universo infantil, imagino o Natal e a vida: todos teriam “brinquedos”, pois quem tivesse dois ou mais dividiria com quem não possuísse nenhum; ninguém ficaria triste, ou sozinho, pois a comunidade estaria reunida; ninguém passaria a noite com fome, pois a mesa farta seria partilhada; e, o mais importante, todos se reuniriam em torno do presépio, pois é ali que se encontra a razão divina e sublime desta festa universal. Sei que é utopia, mas bem que poderia se tornar realidade, conforme diz o poeta: “Se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de toda essa magia, eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia”.

Nesse tempo de Advento, tempo de oração, vigilância e possíveis mudanças de vida, rezo a Deus por seu povo – santo e pecador – nesta estrada da vida rumo ao Natal e ao céu: Ajudai-nos, ó Deus, a rever nossas urgências. A vida é tão transitória! Ajudai-nos a distinguir o que realmente é urgente do que são apenas caprichos para preencher uma vida vazia demais. Ajudai-nos a perceber o verdadeiro sentido do Natal. Só assim poderemos perceber que a maior urgência de nossa vida é o caminho do céu e a única maneira de encontrá-lo é de mãos dadas.
Luisa Garbazza
Publicação do Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho
Novembro de 2017

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