quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A vivência da misericórdia

O Papa Francisco decretou: 2016 é o “Ano da Misericórdia”. A palavra misericórdia é composta pelos termos latinos MISERATIO, derivado de MISERERE, que significa “compaixão”, e CORDIS, derivado de COR, “coração”. Juntas, significam “‘dar o coração àqueles que são vítimas da miséria”. Essa palavra aparece muitas vezes nas Sagradas Escrituras, tanto para mostrar a compaixão de Deus para com a humanidade, quanto para nos ensinar a ter misericórdia para com nossos irmãos.
No Antigo Testamento, Deus se compadece de seu povo, que sofria os maus tratos da escravidão no Egito, e depois, quando sentia as más condições do deserto em busca da Terra Santa. E na caminhada do povo de Deus, até a vinda do Salvador, muitas foram as interferências do Criador para amenizar as dores dos seus filhos e filhas. No Novo Testamento, enquanto estava entre nós, Jesus deixou vários exemplos para que entendêssemos que devemos ter misericórdia uns para com os outros. Em uma das parábolas, enquanto o sacerdote e o levita viram o homem jogado no chão, ferido, quase sem vida, e passaram adiante, o samaritano agiu com misericórdia e ajudou-o a recuperar a dignidade. E o próprio Jesus estendeu a mão e teve misericórdia dos doentes, do cego, da viúva, da pecadora arrependida, dos leprosos e do ladrão crucificado ao seu lado.
Muitos séculos se passaram e a humanidade não aprendeu os ensinamentos de Jesus. Pelo contrário, continuam a viver numa busca desenfreada pelo poder acima de todas as coisas. Cada Nação quer ser mais poderosa e, para isso, declaram guerra, agem com violência, matam milhares de inocentes. A humanidade está cada vez mais necessitada de clemência: misericórdia para com as pessoas que lutam pela sobrevivência; com as crianças que são privadas de viver plenamente a infância; com os idosos não compreendidos e, às vezes, esquecidos; com os que são discriminados e oprimidos. Também necessitam da misericórdia de Deus os poderosos que detêm o poder, incapazes de praticar a justiça e a solidariedade; os ditadores que fecham os olhos para a evolução da humanidade; os que se enriquecem às custas do sofrimento de muitos; os que idolatram os valores mundanos e teimam em deixar fechados os olhos da fé.
Nós, católicos, também precisamos repensar o sentido dessa palavra em nossas ações diárias. Não basta ir à igreja uma vez por semana e depois fechar os olhos ao que ouviu. Também não basta ir à igreja todos os dias e agir como se isso fosse suficiente. O que mais importa é a vivência da misericórdia. E os que mais precisam praticar essa vivência, são os que estão a serviço da Igreja. Ali, colocando os dons à disposição, somos todos iguais. Precisamos agir com misericórdia. Precisamos ser samaritanos com os que nos relacionamos. Trabalhar em comunhão uns com os outros, em comunhão com os sacerdotes e em comunhão com Deus. Só assim, nosso trabalho será agradável aos olhos daquele que nos criou.

Aproveitemos este Ano da Misericórdia para pedirmos a Deus este dom e praticá-lo em nosso dia a dia. Tenhamos, primeiramente, misericórdia de nós mesmos, para vivermos na simplicidade dos lírios do campo, como nos ensinou Jesus, e na humildade do cordeiro, como Ele mesmo nos deu o exemplo. Desta forma, estaremos prontos para agir com misericórdia e acolher a todos os que precisam de nossa ajuda, de nossa compreensão, de nosso sorriso, de nossos conhecimentos dentro e fora da Igreja. É assim também que alcançaremos a misericórdia infinita de Deus Pai, que nos ama e nos acolhe, sempre de braços abertos.
Luisa Garbazza

Publicação do Jornal Paróquia N. S. do Bom Despacho 
Fevereiro de 2016

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