domingo, 7 de abril de 2013

A marca da humildade


Nós, católicos, estamos vivendo a euforia ocasionada pelas mudanças na Igreja. A escolha de um novo Papa é sempre motivo de muita apreensão e, ao mesmo tempo, de muita esperança. A nação católica, representada por milhares de fiéis presentes na Praça de São Pedro, demonstrou uma simpatia espontânea pelo Papa recém-eleito desde o primeiro momento – seu sorriso, seus gestos de humildade, suas palavras simples e o nome escolhido: Francisco. Esse é um nome repetido muitas vezes, na história da Igreja, nominando santos importantes que a enriqueceram ao longo dos séculos. Curiosamente, encontrei oito santos com essa denominação.
O mais conhecido – que motivou o cardeal argentino, Jorge Mario Bergoglio, na escolha do nome – é tido como uma “luz que brilhou no mundo”: São Francisco de Assis, que nasceu em 1182, em Assis, na Itália, tido como a maior figura do cristianismo. Jovem orgulhoso e vaidoso, acostumado com riquezas e glórias militares, teve sua vida transformada após sentir a presença de Jesus chamando-o para reconstruir sua Igreja. Após a conversão, abandonou a fortuna e escolheu como opção a miséria absoluta, a paz, os pobres, os doentes e a Igreja. Colocou Cristo em primeiro lugar e sentia-se como mais uma obra de Deus, tratando toda criação divina como irmão: irmão sol, irmã lua, irmão lobo... Esse jovem, apaixonado por Jesus, teve – e ainda tem – muitos seguidores, e deixou-nos um legado de belíssimas canções e orações tão puras que nos fazem sentir em perfeita comunhão com Deus.
Logo após, veio São Francisco de Paula, nascido em 1416, região da Calábria – Itália, que recebeu esse nome por causa da devoção dos pais pelo seu antecessor. Como o mestre de Assis, São Francisco de Paula viveu um desprezo absoluto pelos valores transitórios da vida e pautou sua existência no socorro ao próximo, em sua especial vocação missionária e na capacidade extraordinária de resgatar os mais puros e preciosos valores contidos no evangelho. Viveu, humildemente, como eremita e dedicou-se por inteiro à oração, penitência e caridade.
Seguindo a história da Igreja, em 1506, no Castelo de Xavier, na Espanha, nasce São Francisco Xavier. Muito rico e estudioso, foi doutor e professor. Era um jovem altivo e ambicioso. Em sua busca por pompas e glórias conheceu Inácio de Loyola, também santo, que sempre lhe dizia: "Francisco, que adianta o homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?" Com esse pensamento, foi cedendo ao amor de Jesus, converteu-se, fundou a Companhia de Jesus e percorreu grandes distâncias dedicando-se à evangelização dos povos. Nos lugares por onde passou, empenhado no caminho da santidade, dedicava todo tempo livre visitando prisões, tratando dos doentes e dos leprosos. É invocado como Patrono Universal das Missões.
Na primeira metade do século XVI, ainda temos dois santos. O primeiro, São Francisco de Borja, nasceu em 1510, em Gandia, na Espanha. Depois de viver na corte do Imperador Carlos V, ter se casado e tido oito filhos, ficou viúvo e renunciou-se aos títulos de nobreza. Entrou para a Companhia de Jesus, fez voto de pobreza, caridade e obediência e foi viver como pregador itinerante, dedicando-se à oração, à eucaristia e à Virgem Maria. O outro, São Francisco Solano era espanhol e nasceu em 1549. Teve sua formação em colégio Jesuíta e prestou muitos serviços à Ordem Franciscana. Depois foi enviado à América Latina para realizar seu sonho missionário e ali se consumiu no trabalho de evangelização. Antes de morrer repetiu as palavras: “Deus seja bendito.”
São Francisco de Sales e São Francisco Régis marcaram a segunda metade do século XVI. Em 1567, no Reino de Saboia, nasceu São Francisco de Sales. Desde cedo, seu desejo era de viver a castidade e buscar a vontade de Deus. Como sacerdote, buscou a santidade para si e para os outros. Semeou a unidade e a sã doutrina cristã animando os fracos e alimentando os fortes. Destacou-se pela vida de caridade, gentileza, alegria, humildade, e verdadeira entrega à vontade de Deus. São Francisco Régis veio ao mundo em 1597 em uma aldeia francesa. Como padre da Companhia de Jesus, priorizou a assistência aos doentes, a evangelização e os confessionários. Com espírito de caridade dedicou-se principalmente às crianças abandonadas e aos jovens.
Por último, já no século XIX e canonizado pelo Papa Bento XVI em 2009, temos São Francisco Coll Guitart, que nasceu na comunidade de Catalunha, Espanha, em 1812. Foi o fundador das Irmãs Dominicanas da Anunciação, com a finalidade de divulgar e reavivar a Palavra de Deus nos povoados de Catalunha. Tinha paixão pela evangelização de maneira itinerante para ajudar as pessoas a um encontro mais profundo com Deus. Sua entrega a Deus era tão grande que tocava o coração das pessoas, pois transmitia aos outros o que ele próprio vivia.
Todos esses homens, que se anularam para engrandecer o nome de Jesus e cuidar dos pobres e excluídos, tiveram em comum a marca da humildade. A Igreja os apresenta como exemplos a serem seguidos. São santos porque conseguiram sentir a dor do outro e compadecer-se dele. Abraçaram os ideais de Jesus e os colocaram em prática, doando a própria vida.
Agora, em pleno século XXI, acolhemos o Papa Francisco. Seus primeiros dias foram vividos de maneira simples, com a mesma humildade e o aparente desejo de santidade de tantos Franciscos ao longo dos séculos. Apresentou-se como servo de Deus, sem ostentação nem privilégios. Seu discurso nos mostra, a exemplo de seus antecessores, as suas principais preferências: os pobres, a caridade, e a urgência pela evangelização e pela paz. O mundo todo acredita que viveremos tempos de mudanças. É como se a palavra de Deus estivesse sendo dita mais uma vez: “Francisco, vai restaurar minha igreja, que está em ruínas”. E nossa voz ecoa agradecendo e pedindo as bênçãos e a proteção de Deus para esse homem em quem depositamos todas as nossas esperanças.
Luisa Garbazza
Publicado no jornal "Paróquia" - Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho
Abril de 2013

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