sábado, 5 de agosto de 2017

Inevitáveis reveses

Mesmo que tenha atingido certo grau de maturidade, também em questão de fé, o ser humano nunca está plenamente preparado para enfrentar os reveses que a vida se encarrega de ir colocando a sua frente. A tristeza e a impotência sempre nos surpreendem nesses momentos, principalmente quando temos que enfrentar a morte de um ente querido. Sabemos que morrer é preparar-se para a ressurreição, mas, mesmo assim, a dor da perda é profunda e irreparável. Hoje passo, mais uma vez, por essa triste experiência. Estou em prantos pela perda de minha irmã Neiva.
Neiva nos deixou uma valorosa lição de perseverança, de luta, de fé diante da vida e de aceitação das dificuldades que nos são impostas. Por quase trinta anos, lutou heroicamente contra várias doenças que quiseram aniquilá-la. Tantas e tantas vezes, contrariando qualquer diagnóstico, renasceu das cinzas, tal qual a fênix que volta à vida. Quando pensávamos que a batalha estava perdida, ela ganhava novo ânimo e recomeçava a caminhada, sem se deixar abater. A despeito de seus dramas existenciais, Neiva foi uma criatura forte e decidida. Uma guerreira. E vencedora, não tenho dúvida.
Por mais que tenha sofrido, essa filha de Deus não se esmoreceu na fé. Em sua caminhada, ajudou muita gente com seus conhecimentos. Foi professora por longos anos, primeiro em escolas, depois trabalhando com aulas particulares. Tinha sempre um discurso de incentivo para seus alunos, que muitas vezes tinham-na como confidente. Passou apertos com alunos rebeldes, indisciplinados e nunca os recusou, pelo contrário, fazia o que estava ao seu alcance para ajudá-los. Com a facilidade que possuía de ler e organizar ideias, fez um sem número de monografias, trabalhos acadêmicos e outros escritos. Por muitas vezes, foi enganada e não recebeu pelo trabalho prestado. Mas não tinha coragem de abandonar esses alunos e repetiu, mais de uma vez, que não guardava rancor de nenhum devedor.
Como escritora, ela escreveu artigos para o Jornal Fique Sabendo e lançou o livro de poesias “Um sonho de liberdade”. Na paróquia, colaborou, por muitos anos, escrevendo artigos para o Jornal Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho. Sempre artigos inteligentes, bem escritos, que causavam admiração aos leitores. Também participou, por vários anos, da Equipe de Liturgia da Matriz. Mostrava-se sempre solícita quando chamada para atuar nas celebrações.
Como filha, coube-lhe o legado de cuidar, mais de perto, de nossa mãe, por ocasião de sua doença. Nós, os outros filhos, ajudávamos em muitos momentos, mas o cuidado maior foi dispensado por ela. Depois que nossa mãe faleceu, em 2014, ela ficou sem chão. Ainda realizou muitas coisas, no entanto nunca mais foi a mesma. De vez em quando, confessava que ainda não havia superado a perda. Mas ficou firme, mostrando a força que sempre teve, até o último instante, sem afastar seu pensamento de Deus. Pedia a Ele que lhe desse força na caminhada. Confiava sempre, também, na intercessão poderosa e querida de Maria, nossa “Mãe do Céu”.
Em 2017, a doença foi se agravando. Ela enfraqueceu demais. Estava internada desde domingo, 16 de julho, ao ser acometida por uma forte pneumonia. Hoje, 21 de julho, fiquei o dia todo com ela no hospital. Passou mal pela manhã, mas depois voltou a si e estava falando e entendendo bem, apesar da falta de ar. Pediu-me que rezasse por ela, pois não estava tendo forças para rezar. Rezei, invoquei a presença de Jesus Misericordioso. Com a voz difícil, por causa do oxigênio, ela me disse: “É a Esse que eu recorro todos os dias”. À tardezinha, despedi-me rezando com ela uma “Ave-Maria”. Mal sabia eu que seria nossa última conversa. Quando cheguei a casa, recebi a tão triste notícia.
Neiva nasceu em 1967. Em setembro, completaria 50 anos. Entretanto Deus quis que comemorasse o seu “meio século” lá no céu. Resta-nos pedir a Deus que a receba em sua glória. Saudades? Vamos sentir. Muitas. Uma imensidade. No entanto, acima de tudo, aprendamos com ela a ter coragem e persistência, a viver com fé e a ter confiança em Deus, mesmo nos momentos – como este – que se torna tão difícil dizer “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.

Luisa Garbazza
Publicação de agosto
Jornal A Paróquia N. Sra. do Bom Despacho

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