
Neiva nos deixou uma valorosa lição de
perseverança, de luta, de fé diante da vida e de aceitação das dificuldades que
nos são impostas. Por quase trinta anos, lutou heroicamente contra várias
doenças que quiseram aniquilá-la. Tantas e tantas vezes, contrariando qualquer
diagnóstico, renasceu das cinzas, tal qual a fênix que volta à vida. Quando
pensávamos que a batalha estava perdida, ela ganhava novo ânimo e recomeçava a
caminhada, sem se deixar abater. A despeito de seus dramas existenciais, Neiva
foi uma criatura forte e decidida. Uma guerreira. E vencedora, não tenho
dúvida.
Por mais que tenha sofrido, essa filha de Deus não
se esmoreceu na fé. Em sua caminhada, ajudou muita gente com seus conhecimentos.
Foi professora por longos anos, primeiro em escolas, depois trabalhando com
aulas particulares. Tinha sempre um discurso de incentivo para seus alunos, que
muitas vezes tinham-na como confidente. Passou apertos com alunos rebeldes,
indisciplinados e nunca os recusou, pelo contrário, fazia o que estava ao seu
alcance para ajudá-los. Com a facilidade que possuía de ler e organizar ideias,
fez um sem número de monografias, trabalhos acadêmicos e outros escritos. Por muitas
vezes, foi enganada e não recebeu pelo trabalho prestado. Mas não tinha coragem
de abandonar esses alunos e repetiu, mais de uma vez, que não guardava rancor
de nenhum devedor.
Como escritora, ela escreveu artigos para o Jornal
Fique Sabendo e lançou o livro de poesias “Um sonho de liberdade”. Na paróquia,
colaborou, por muitos anos, escrevendo artigos para o Jornal Paróquia Nossa
Senhora do Bom Despacho. Sempre artigos inteligentes, bem escritos, que
causavam admiração aos leitores. Também participou, por vários anos, da Equipe
de Liturgia da Matriz. Mostrava-se sempre solícita quando chamada para atuar
nas celebrações.
Como filha, coube-lhe o legado de cuidar, mais de
perto, de nossa mãe, por ocasião de sua doença. Nós, os outros filhos, ajudávamos
em muitos momentos, mas o cuidado maior foi dispensado por ela. Depois que
nossa mãe faleceu, em 2014, ela ficou sem chão. Ainda realizou muitas coisas,
no entanto nunca mais foi a mesma. De vez em quando, confessava que ainda não
havia superado a perda. Mas ficou firme, mostrando a força que sempre teve, até
o último instante, sem afastar seu pensamento de Deus. Pedia a Ele que lhe
desse força na caminhada. Confiava sempre, também, na intercessão poderosa e
querida de Maria, nossa “Mãe do Céu”.
Em 2017, a doença foi se agravando. Ela enfraqueceu
demais. Estava internada desde domingo, 16 de julho, ao ser acometida por uma
forte pneumonia. Hoje, 21 de julho, fiquei o dia todo com ela no hospital.
Passou mal pela manhã, mas depois voltou a si e estava falando e entendendo
bem, apesar da falta de ar. Pediu-me que rezasse por ela, pois não estava tendo
forças para rezar. Rezei, invoquei a presença de Jesus Misericordioso. Com a
voz difícil, por causa do oxigênio, ela me disse: “É a Esse que eu recorro
todos os dias”. À tardezinha, despedi-me rezando com ela uma “Ave-Maria”. Mal
sabia eu que seria nossa última conversa. Quando cheguei a casa, recebi a tão
triste notícia.
Neiva nasceu em 1967. Em setembro, completaria 50
anos. Entretanto Deus quis que comemorasse o seu “meio século” lá no céu. Resta-nos
pedir a Deus que a receba em sua glória. Saudades? Vamos sentir. Muitas. Uma
imensidade. No entanto, acima de tudo, aprendamos com ela a ter coragem e
persistência, a viver com fé e a ter confiança em Deus, mesmo nos momentos –
como este – que se torna tão difícil dizer “Seja feita a vossa vontade, assim
na terra como no céu”.
Luisa Garbazza
Publicação de agosto
Jornal A Paróquia N. Sra. do Bom Despacho
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