Tão agitado anda o mundo, que, às vezes, não conseguimos ouvir e absorver o que realmente importa. São tantas as vozes que chegam até nós, tantos ruídos, tantas fontes a nos oferecer algo para escutar! A mente humana, que não para, vê-se nesse burburinho constante e, muitas vezes, se perde, numa sensação de vazio.
Esse sentimento pode muito bem ser fruto dessa era digital, que nos escraviza. Estamos expostos a barulhos aleatórios, a nossos próprios barulhos e àqueles que trazemos para perto de nós, alguns até dentro do ouvido, através dos celulares. Difícil é tomar consciência de que essa prática não é saudável e buscar alternativas para diminuí-la. Difícil é não nos deixarmos dominar completamente pelas telinhas e tirar um tempo para ouvir a voz dos que estão perto de nós e a nossa própria voz. Difícil é perceber o quão necessitados estamos de momentos de silêncio, de quietude, de reflexão, tão necessários à saúde do corpo, da mente, do espírito.
Voz interior
Um tempo de maior conexão com o sagrado, portanto de silêncio interior, nós, católicos, vivemos durante a Semana Santa. Relembrando-a, trago à mente a celebração da Sexta-feira Santa: momento litúrgico, com a belíssima cerimônia do “Beijo na Cruz”. Quantas pessoas haviam na igreja naquele dia! O espaço sagrado se fez pequeno para abrigar tantos fiéis. Todos estávamos ali, sedentos de Deus, chorando a morte de Jesus e adorando a Cruz sagrada.
Ouvimos, atenciosos, as leituras bíblicas e a homilia proferida pelo padre Renato. Ao terminar sua fala, padre Renato pediu a todos que fizéssemos um instante de silêncio para deixar que aquelas palavras chegassem ao nosso coração. Houve então um grande silêncio. Pesado até. Nada se ouvia! Nem mesmo o falfalhar do folheto impresso. No instante seguinte, a barreira do silêncio foi quebrada pelo choro de uma criança pequena, que se espalhou por toda a igreja...
Mais um pouco, e o padre continuou a celebração. Minha mente, no entanto, continuou ouvindo aquele choro e pensando em nossas próprias misérias. São tantas as dificuldades que precisamos vencer. O choro daquela criança veio traduzir o choro de muitos de nós. São todos irmãos e irmãs nossos, sedentos de Deus, buscando o conforto para suas dores. No coração de cada um, a certeza de que Deus vem aliviar a nossa angústia e enxugar as nossas lágrimas. Ali, vivendo a Semana Santa, revivendo o sofrimento de Jesus, que se entregou por nós, entregamos a Ele o nosso próprio sofrimento.
Fazer silêncio, ouvir a voz de Deus, ouvir nossa voz interior, tudo isso tem um valor imprescindível para nosso crescimento espiritual. Essa prática pode trazer à tona alguns sentimentos esquecidos, guardados nas gavetas do inconsciente, mas tão necessários para compreendermos melhor nossa missão de filhos e filhas de Deus. Tomara tomemos consciência da necessidade de espalhar o valor do silêncio, dos momentos de quietude para vivermos de forma mais equilibrada, sabendo respeitar nossos próprios limites e o limite do outro. Tantos erros sociais talvez pudessem ser evitados se as pessoas parassem um pouco para pensar, ponderar, olhar para si mesmo, ouvir sua voz interior, que soa diferente em momentos de agitação e em momentos de reflexão.
Na Sexta-feira Santa, o som do silêncio ecoou em meus ouvidos. O choro da criança despertaram meus sentimentos mais profundos. As lágrimas vieram regar o coração recolhido em preces, que saíam da alma na certeza de encontrar destino certo: o coração de Jesus.
Luisa Garbazza
Jornal “Paróquia N. Sra. do Bom Despacho”
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