Nós, seres humanos, somos simples e complexos, imperfeitos,
inacabados, necessitados uns dos outros para realizarmos uma tarefa que não é
tão simples assim: viver. Na construção de nossa própria história, somos
dotados de liberdade para escolher nossos caminhos e inteligência para realizar
maravilhas. Como filhos e filhas de Deus, no entanto, temos necessidade de conservar
o elo que nos mantém conectados com o Criador. É essa sintonia com Deus que nos
faz capazes de dar passos seguros e confiantes, na certeza de que estamos
amparados, acompanhados e que somos amados a despeito de quaisquer
circunstâncias.
Por sermos seres inacabados, somos movidos a fé, a
esperança, a sonhos e precisamos buscar algo novo a cada dia. Também é
necessário estar em sintonia com o semelhante, nossos irmãos e irmãs de
caminhada. É em comunidade que vamos crescer, ajudar a quem precisa, amadurecer
nossa fé, professar nossa crença em Deus todo poderoso. Na busca por esse
amadurecimento, caminhamos rumo à santidade. Dia após dia, ano após ano, a
Igreja nos oferece oportunidades de vivenciarmos a trajetória do povo de Deus e
do próprio Jesus através das festas litúrgicas. Recentemente passamos pela
Quaresma, Semana das Dores, Semana Santa e Páscoa – ressurreição de Jesus,
proposta de vida nova para cada filho e filha de Deus. São momentos de oração,
penitência, jejum, abstinência, para culminar na alegria do Cristo
ressuscitado; momentos que reforçam nossa fé e nos dão esperança para
continuarmos a batalha da vida.
Neste ano, ao celebrar a Semana das Dores,
reunimo-nos para meditar as dores de Maria na Igreja Matriz, sempre às 18
horas, encerrando com a Missa das 19 horas. Como coordenadora, procurava
acolher a cada um que chegava. Revezamos nos momentos das leituras e das
orações, para que haja participação de todos. No primeiro dia dessa semana,
domingo, dia 14 de abril, refletíamos sobre a primeira dor de Maria: Profecia
de Simeão. A igreja estava quase cheia. No primeiro banco, notei a presença de
dois jovens, bem concentrados, atentos às orações. Aproximei-me, com o terço na
mão, e perguntei se queriam rezar um mistério. A resposta foi-me surpreendente:
”Nós não sabemos rezar. Somos novos convertidos. Agora que estamos aprendendo a
rezar a Ave-Maria.” Durante a rápida conversa, disseram que estavam
frequentando a catequese. Em um misto de surpresa e contentamento, eu os acolhi
e pedi que lessem o texto de contemplação dos mistérios, o que fizeram com
alegria.
Esse acontecimento encheu-me o coração. Acolher
aqueles jovens fez a diferença no meu dia, na minha oração, no meu modo de
pensar. Por um instante, quis falar para a igreja toda, contar a novidade, como
as mulheres ao contar que Jesus havia ressuscitado: com o coração cheio de
alegria. Contive-me, no entanto, entendendo que aquela não seria a melhor hora
para fazê-lo.
A alegria sentida, ao encontrar aqueles dois
jovens, fez-me lembrar de uma passagem bíblica, às vezes tão difícil de entender:
“Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais
do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”. (Lucas
15:7) Fiquei pensando que Jesus devia estar mais alegre com aqueles dois
jovens, em cujos corações a fé católica começava a brotar, do que com a minha
presença e a de tantos outros que estão a vida inteira na igreja. Os meus olhos
se abriram, e já não havia nenhuma dúvida a respeito dessas palavras, pois a
alegria transbordava também do meu coração.
Luisa Garbazza
Maio 2019
Jornal "Paróquia"
Nenhum comentário:
Postar um comentário