Manhã
de domingo, em minha casa, é quase sempre a mesma rotina: levantar cedo e se
preparar para participar da Santa Missa. No último domingo, entretanto, como
teríamos função na missa da noite, mudou-se a rotina: levantamos cedo, e o
Flávio convidou-me para uma caminhada.
O
ar fresco da manhã e a conversa amena tornavam agradável o caminhar. No meio do
caminho, no entanto, algo quebrou nosso encantamento: em frente à cadeia, um
grupo de mulheres aguardava o momento das visitas. Aquela cena muito nos
sensibilizou. A partir daí, então, a conversa foi sobre a Campanha da
Fraternidade 2019, sobre políticas públicas, para qual estamos nos preparando,
pois sabemos que muitos dos presos são jovens que se envolveram no mundo das
drogas.
Em
preparação para a Campanha da Fraternidade, tivemos, no último sábado, um
encontro de formação para a liderança da paróquia. Convidamos o promotor
público, Dr. Giovani Vieira, para falar para nós sobre as políticas públicas.
Muito interessante as palavras do Giovani, que nos dizia o quanto a
Constituição Federal do Brasil é rica e completa. Triste é vê-la tão
desvalorizada. Ali entendemos que há, sim, leis que protegem os menores, o meio
ambiente, os idosos, a família, que privilegiam a educação e a saúde. Pena que
os políticos não cumprem – pelo menos não em sua totalidade – o que dita nossa
constituição. E as consequências? Vemo-las no meio de nós: pessoas
desamparadas, idosos sem amparo, muitos doentes sem socorro, infância
desvalida, jovens sem perspectivas, educação precária e o meio ambiente cada
vez mais devassado.
Vendo
tanto descaso por parte dos políticos, nós cristãos não podemos nos acomodar. É
aí que entra a verdadeira fraternidade. Precisamos tomar consciência da nossa
obrigação de filhos e filhas de Deus e partir para a prática do “Amai-vos uns
aos outros como eu vos amei”. Esse é o
mandamento deixado por Jesus. Esse deveria ser o maior de todos os mandamentos,
e às vezes fica esquecido. Abramos nosso coração. Há tanto a ser feito! Podemos
apoiar o irmão que sofre, cobrar dos políticos que seja cumprido o que nos
propõe a Constituição Federal. Está tudo lá, nas leis. É necessário apenas que
haja forças para vencer a corrupção e colocar em prática a lei dos direitos
iguais para todos, em quaisquer circunstâncias, a começar pelo direito à saúde,
à educação e a uma vida com dignidade. Posso estar sendo muito otimista, mas
creio que se todos tivessem acesso a esses direitos, haveria bem menos
violência, menos revolta, menos tragédias.
Tomara
que, nesta Campanha da Fraternidade, possamos, todos juntos, olhar com mais
compaixão para nossos irmãos que sofrem e fazer alguma coisa para ajudá-los a
conseguir o que lhe é de direito. Nem todos se conformam com a situação em que
vivemos. Juntos, com a certeza da graça de Deus, que se fará presente em nossas
atitudes, podemos melhorar a vida dos nossos irmãos e a nossa também. A certeza
de que Deus está conosco, nos dará forças na caminhada de fé e de fraternidade.
Aqui
me lembro de outro fato da última semana: saindo bem cedo de casa, passei perto
de uma construção civil e ali, sentado ao lado de um monte de areia, aguardando
a hora de começar o trabalho, um jovem, de cabeça baixa. Ao me aproximar, notei
que ele tinha nas mãos uma Bíblia – já amassada e um pouco suja – e um lápis,
com o qual ia marcando algumas palavras. Tenho certeza de que aquele jovem
também sofre as consequências do regime de privilégios em que vivemos. Mas sei
também que ele coloca todas as suas esperanças em Deus, o qual estava ouvindo
através da Palavra.
Luisa
Garbazza
Publicação do jornal "Paróquia"
Março de 2019
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