Tempo do Advento. À espera do Senhor que vem. Como é bom viver esse tempo, preparando o coração para a chegada do Natal! A sensibilidade é aflorada, cresce o carinho pelas pessoas, a proximidade torna-se necessária, fomenta a cultura do cuidado: é um tempo de graça.
Ao viver esse tempo do cuidado, minh’alma se lembra dos que já se foram, especialmente minha mãe, que passou seus dias cuidando do outro: do pai e dos irmãos, depois do marido e dos filhos, e, por toda sua vida, de tantos quantos a procuravam necessitados de ajuda, seja ela de que natureza fosse. Esqueceu-se de si para se ocupar dos irmãos e irmãs. Hoje fico me lembrando do carinho com que ela tratava o semelhante, conhecido ou desconhecido. Carinho que se estendia aos animais e plantas. Em cada casa onde morava, desde a adolescência, era imprescindível um canteiro de flores, o que tratava logo de providenciar. Depois, em casa de espaço reduzido, cultivava suas flores em pequenos vasos. E quando já não possuía mais energia para cuidar dos outros, ocupava-se essencialmente de suas plantas.
Essas lembranças me levam a um lugar comum: mães gostam de flores, de plantas, de jardins. Nessa era das orquídeas e das suculentas, então, os vasos, qualquer que seja o tamanho, passou a ser um presente muito valorizado, competitivo até. Tanto que, na época da eleição, criaram uma “promessa” de campanha nas redes sociais: “Se eu for eleito, a casa de toda mãe será cheia de plantas”.
Mães que cuidam
Fico a analisar esse amor todo pelas plantas, principalmente por parte das mães cujos filhos já estão criados, e, por experiência própria, vou tirando minhas conclusões. O coração de uma mãe é puro amor. Amor que se desfaz em cuidados, desde a gestação. O filho é o tesouro maior; cuidar do filho, a maior dádiva. Por muitos anos, a mãe se dedica àquele ser tão frágil, extensão do seu, de maneira intensiva. Quando os filhos crescem e se ausentam, a mãe se sente muito só, mas aquele amor-cuidado, instinto materno, não diminui. Ela então o transfere para as plantas: rega, cuida, cava a terra, tira as folhas amarelecidas, coloca adubo, passa para um vaso maior... E não se cansa de admirá-las, notar o broto novo, o primeiro botão, a beleza das flores. A magia de cuidar de uma plantinha se assemelha ao dom de cuidar do filho pela fragilidade, pelo zelo, pela expectativa, pelo encantamento. Cada centímetro a mais, cada passo, cada palavra, cada dentinho, tudo vai preenchendo o coração materno, que se desmancha em amor.
Esse encanto que faz parte do dia a dia das mães, muitas vezes regado a lágrimas, vem nos lembrar a graça do Natal. Nesse tempo, o forte, para grande parte da sociedade, é presentear, dar e receber presentes. Para tal, temos uma opinião comum: “Mãe gosta de ganhar planta”. Sim, gosta mesmo, salvo raríssimas exceções. É preciso, no entanto, uma pequena reflexão. A mãe gosta de planta para dispensar a ela seu cuidado, sua esperança, principalmente nos momentos de solidão. O que às vezes passa despercebido é que a mãe também carece de cuidado, de carinho, de atenção.
Então você, querido leitor, que está pensando em presentear sua mãe com um vaso de flor – ou outro presente qualquer –, lembre-se de que, assim como a planta, a mãe precisa de cuidado. Reserve um pouquinho do seu tempo para sua mãe. Aproxime-se, sem pressa. Procure saber se ela está bem, se sente vontade de comer uma coisa diferente, se está precisando de alguma coisa. Coloque o seu coração em sintonia com o de sua mãe. Ame-a!
luisagarbazza@hotmail.com
Publicação do Jornal Paróquia N. Sra. do Bom Despacho
Dezembro de 2022