A Quaresma é um tempo
propício para uma reflexão acerca de nosso modo de viver a vida e de conviver
com nossos irmãos em Cristo. Como nos deixou escrito o Servo de Deus Pe. Júlio
Maria (Comentário de Vida Litúrgica do
Evangelho Dominical, p. 174): "Que
tempo pode haver mais favorável para inspirar-nos um verdadeiro ódio ao pecado,
do que o tempo da Quaresma, consagrado à paixão e morte do Salvador? (...) As
graças são mais abundantes, e todos os ofícios da Igreja, bem como todos os
ensinamentos da Liturgia, tem por fim excitar em nós o ódio ao mal e a vontade
de fazer o bem." Um desses “ofícios da Igreja”, proposto para esse
tempo de conversão, é a Via-sacra: um exercício religioso de oração e
meditação.
O exercício da
Via-sacra surgiu na época das Cruzadas, nos séculos XI a XIII, época em que os
fiéis vinham de longe, percorriam os lugares santificados pela vida, paixão,
morte e glorificação de Cristo e quiseram reproduzir, no ocidente, toda essa
peregrinação. Reproduziram então em 14 quadros representando as estações, quer
dizer, a via dolorosa que nos apresenta as principais cenas da Paixão de Cristo
a serem meditadas.
Aqui, na Paróquia
Nossa Senhora do Bom Despacho, sempre houve o costume de se fazer a “Via
Sacra”. Individualmente ou em grupos, os fiéis reservam um tempo, durante esses
quarenta dias, para caminhar com Jesus por essa “Via Crucis”. Além dos textos
tradicionais para se meditar nessa caminhada, temos a proposta sugerida pela
CNBB, que abrange, além dos passos de Jesus, o tema da Campanha da
Fraternidade. Em 2016, meditamos sobre “CASA COMUM, NOSSA RESPONSABILIDADE”. É
um apelo para tratarmos o planeta, nossa casa comum, com uma dose extra de
carinho. Se é uma casa comum, é dever de todos cuidar para que seja preservada.
Essa Via-sacra,
proposta pela CNBB, está sendo realizada, em todas as comunidades, como parte
dos encontros propostos para a Campanha da Fraternidade. Na Igreja Matriz,
estamos rezando toda quarta e sexta-feira, às 18 horas. A cada dia, um número
crescente de fiéis junta-se a nós para esse momento de oração. Um grupo que se
une em preces, que eleva o pensamento e a voz a Deus, reza, pede, agradece,
canta. Com a participação de todos, vamos andando, sem pressa nem atropelos, em
volta da igreja, acompanhando os passos de Jesus.
Em cada passo, a
presença de Jesus: que enfrenta a prisão; é condenado por Pilatos diante da
multidão; cai por terra e ora ao Pai: “Pai, se for possível, afasta de mim este
cálice!”; encontra-se com sua mãe; recebe ajuda de Simão, o Cirineu; obtém
instantes de refrigério quando Verônica enxuga-lhe o rosto; cai pela segunda
vez; consola as mulheres de Jerusalém; sucumbe, pelo peso da cruz, e cai por
terra pela terceira vez; é despido de suas vestes; é crucificado; morre na
cruz; José de Arimateia retira o corpo de Jesus; Jesus é sepultado. Todo esse
sofrimento foi para nossa salvação.
Em cada estação, os
pedidos de socorro para nós e para essa terra – nossa casa comum: justiça para
todos; libertação de todo aprisionamento que prejudica a vida; reerguimento de
todos os abandonados e esquecidos da terra; ajuda para que as religiões cresçam
no diálogo que promove o cuidado com a vida; eficiência no cuidado da família
global; saída de nós mesmos para mudar a sociedade; prática da justiça e da
verdade; valorização, no interior da Igreja, da atuação pastoral; combate à
corrupção que impede o desenvolvimento de políticas sustentáveis; avivamento
das comunidades cristãs; desejo da prática do bem; trabalho para a criação de
um mundo onde os limites sejam superados; cura da maldade que destrói a vida;
perdão pelas vezes que prejudicamos a criação com a nossa poluição; o
compromisso de fazer alguma coisa para que o mundo seja melhor.
No final, a vitória de
Cristo e o pedido: Ó Pai, ajudai-nos a descobrir que estais vivo em cada
criatura, para manifestar a glória do Ressuscitado. E, ainda, o agradecimento,
pois o cansaço do corpo é compensado pela leveza da alma que se eleva a Deus e
dá graças por todos os benefícios que Ele nos concede.
Luisa Garbazza
Publicação do Jornal "Paróquia N. S. do Bom Despacho"
Março de 2016