quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Presença divina

            Às vezes, nesse vai e vem ininterrupto do mundo atual, ficamos tão acostumados com o barulho excessivo que assustamos quando impera o silêncio. Há os que nem conseguem ficar sozinhos. O silêncio incomoda. Vão logo ligando rádio, televisão, computador. Mas precisamos tanto de momentos de calmaria! Dar vazão aos sentimentos mais profundos, ouvir a consciência, deixar que o coração se manifeste.
            Em muitas ocasiões, fica difícil encontrar tempo e lugar para esse "desligar-se do mundo". O nosso dia a dia é interligado com o de outras pessoas, cada uma com horários, necessidades e preferências distintas. Se eu desejo silêncio, o outro quer ouvir uma música em um volume bem alto; se anseio aquietar-me, alguém quer sair pelas ruas exibindo o motor possante de uma máquina qualquer; enquanto uns querem curtir sua tristeza, alguns soltam fogos de artifícios para exteriorizar sua euforia; para manter a modernidade, máquinas são ligadas em fábricas e residências. Além disso, há a algazarra natural das crianças e dos adolescentes. E ainda, os ruídos internos que muitas vezes nos atormentam: problemas para resolver, - outros sem solução - lamentos, dores da alma. As horas vão se sucedendo, não conseguimos vislumbrar um horizonte mais tranquilo e não nos permitimos - ou não nos permitem - um momento só nosso, sem interferências.
            Recentemente, tive a oportunidade de uma experiência fantástica nesse sentido. Em busca de uma maior sintonia com a natureza, fomos, em família, visitar a Gruta do Maquiné. Descemos sem pressa, ouvindo o guia, que explicava tudo com detalhes impressionantes e nos orientava o caminho. Andamos por seiscentos metros, numa descida de dezoito metros de profundidade. Maravilhosas formações - imagens colossais nas paredes da gruta -  despertavam a imaginação e nos faziam sentir tão pequeninos!
            Contudo, o que mais impressionou, foi o final da descida, na última sala, de mais ou menos cento e quarenta metros. Como não há outra saída, ficamos completamente isolados do mundo.  Naquele momento, o guia nos convidou para uma pequena experiência. Pequena, mas que mexeu com as estruturas de muitos que ali estavam. Pediu que, por alguns momentos, fechássemos os olhos e ficássemos todos bem quietos e sem falar. Um estrondoso silêncio envolveu aquele lugar. Nada se ouvia. Nem um ínfimo movimento - de algum inseto, talvez - ou o farfalhar de alguma folha, nada.
            Os ouvidos, desacostumados com o silêncio, estranharam no início. Depois foram assimilando a realidade. De repente, era a alma que estava sendo despertada. Impossível não sentir, naquele instante, uma forte presença divina. Ali, naquele vazio absoluto, naquela ausência total de sons, Deus estava presente. Nenhuma outra explicação, para os sentimentos que de mim se apoderaram, iria me convencer.
            Lamentei quando o guia nos trouxe de volta à realidade. Desejei ter um tempo maior para continuar suspensa, buscar Deus cada vez mais no meu interior, prolongar a paz que rapidamente me encontrou. Lembrei-me do tempo de Jesus e das muitas vezes em que Ele se afastou da multidão para procurar o silêncio, entrar em sintonia com o Pai e rezar. No entanto, a realidade se impôs na fala das pessoas, no som dos passos e nas luzes das câmeras. Começamos a subida e Deus se impunha, todo poderoso, em tudo naquela gruta e no meu coração.
            De volta à superfície, fiquei refletindo sobre a dificuldade que temos hoje para nos silenciar - tão diferente do tempo de Jesus, quando não havia tantas modernidades. Ao mesmo tempo, sei que isso é essencial para nossa vida de fé. É nesses momentos de interiorização que sentimos a presença de Deus, ouvimos seus apelos e encontramos coragem para nos colocar a serviço.
Luisa Garbazza
Janeiro de 2014
Publicado originalmente no jornal "Paróquia"
Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

“Ano da Graça” na Diocese de Luz



           O Ano da Graça sempre fez parte da história do povo de Deus. Em cada tempo com um objetivo e uma proporção distinta, porém com um ponto em comum: "Em tudo dar graças a Deus".
            A ação de graças deve ser uma conduta permanente de todos nós, cristãos. É ela que alimenta e fortalece nossa esperança diante das adversidades da vida. Através dela, tomamos consciência de que o fruto de tudo o que fazemos é obra o Espírito Santo que age em nós.
            Com início no primeiro domingo do Advento de 2013, nosso bispo diocesano, Dom Félix, convoca a todos nós, dessa Igreja Particular de Luz, para o "Ano da Graça". O propósito é que seja um tempo oportuno para a fraternidade, tanto familiar quanto na Igreja e na sociedade. Tempo para que possamos refletir sobre a caminhada pastoral na diocese e na paróquia e perceber a misericórdia de Deus em tudo que foi construído.
            Será, também, ocasião de reunir todos os fiéis leigos que participam de pastorais para encontros de formação, retiros espirituais e momentos de oração, principalmente nas comunidades, para fortalecimento na fé e na graça de Deus. É importante procurar os que não participam ou estão afastados: levar a Igreja aos que não vêm a ela.
            Vamos aproveitar este ano, para rever o que foi proposto nas três Assembleias Diocesanas de Pastoral e o que foi feito a partir delas.
            A primeira, em 2000, com o lema: "Queremos ser uma Igreja mais humana e participativa.", levou-nos a refletir que "Sozinho e isolado, ninguém é capaz".
            A segunda, em 2004, reforçou nossa missão de evangelizadores  e refletiu sobre o lema "Queremos ser uma Igreja que forma o povo de Deus, renova a Comunidade e transforma a Sociedade".
            Com o lema: "Somos Igreja, Comunidades de Discípulos em Missão", a  terceira assembleia, em 2009, veio despertar os fiéis para a missão, unindo as comunidades.
            Agora, o importante é percebermos de que a Igreja somos nós. E a Igreja precisa de nós. Todos. Cada um com seu dom, no entanto, com igualdade de valor. Não importa o serviço prestado. Tem mais valor aquele que é feito de graça, com alegria no coração, respeito pelo próximo e a consciência de que tudo deve ser feito em nome de Deus.
            Durante o Advento, ouvimos a voz do profeta Isaías convidando-nos a deixarmo-nos guiar pela luz do Senhor que se aproxima. Ouvimos, também, a voz de Jesus dizendo para ficarmos atentos, pois não sabemos em que dia o Senhor virá. E hoje somos convidados, de forma especial, a vivermos durante um ano, um tempo forte de encontro e partilha. Tempo para celebrar e confraternizar. Tempo de parada para reflexão, para repensarmos nossa caminhada de fé na família, na comunidade, na Igreja e na sociedade.
            O Ano da Graça deve ser vivenciado por todos nós, pois somos todos responsáveis pelo crescimento da ação pastoral da Igreja. Para isso, aprendamos com São Paulo, em sua primeira carta aos Tessalonicenses, em que nos ensina que nossas comunidades devem ser alicerçadas na fé e estar sempre preparadas para os desafios, sendo vigilantes, tendo apreço pelas lideranças locais, sendo sempre alegres, rezando e dando ação de graças a Deus em tudo. A ação de graças nos desperta para acolher o mistério da presença de Deus em nossa vida. Ela nos alimenta e fortalece a nossa esperança.
            Aceitemos esse convite. Assim poderemos formar, juntos, a "Igreja Viva, que caminha para o Reino do Senhor."

Luisa Garbazza
Fevereiro de 2014

Publicação do Informativo Igreja Viva - Paróquia Nossa Senhora do Rosário