quarta-feira, 12 de junho de 2013

Namoro edificante

           E Deus disse: "Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante". (Gênesis 2:18). Assim começa a história do povo de Deus. Homem e mulher criados à semelhança do Todo-Poderoso para se amarem e multiplicarem-se povoando a terra. 
     Ao longo  de todos esses   anos, muitos  foram os modelos de relacionamento homem/mulher, – Alguns tão desumanos! – mas à medida que conhecemos melhor a palavra de Deus, através da Sagrada Escritura, percebemos nitidamente o plano de Deus para nós. Ele criou homem e mulher para formarem uma família e educarem os filhos no amor e na fé. E para isso, é necessário que eles se conheçam e se preparem para uma convivência harmoniosa. É no período do namoro que começa a preparação para uma saudável vida a dois. 
          Em pleno século XXI, com o mundo cada vez mais egoísta, violento e erotizado, parece obsoleto falar de namoro e, mais ainda, falar de namoro cristão, namoro santo. Porém, para quem é católico, acredita nas palavras de Jesus, vive o amor e a fidelidade em família, é isso que vai ensinar para as novas gerações. Ainda mais neste ano em que estamos saindo de uma Campanha da Fraternidade voltada para os jovens e preparando-nos para vivenciar a Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, seria hipocrisia não educarmos o jovem para viver o Evangelho também no namoro. 
          A mocidade é uma fase da vida muito abençoada por Deus. Entre tantos sonhos que povoam a vida desses moços e moças, tantas aspirações para um futuro idealizado e a urgência em correr contra o tempo, está o anseio por um amor puro e verdadeiro. Nessa busca, é comum encher-se de ilusões e sentir dificuldade para encontrar alguém que preencha os anseios da alma. Não bastasse os arrojos próprios dessa fase, ainda se depara com a cultura do “vale tudo”. A mídia apresenta para o jovem um mundo em que tudo é permitido e isso entra em choque com os valores recebidos da família. Muitos se sentem em uma encruzilhada, sem saber o que deve ser considerado apropriado e o que deve ser evitado. Um conselho que ajuda nessas horas de indecisão vem de São Paulo, na primeira carta aos Coríntios: "Tudo é permitido, mas nem tudo convém. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica.” 
        Para seguir nessa estrada em busca de um relacionamento que o edifica, o jovem precisa procurar, em primeiro lugar, um encontro muito profundo com Deus; depois, encontrar-se consigo mesmo procurando se conhecer melhor. Só então estará preparado para uma adequada convivência. Terá maturidade para cultivar o romantismo, a gentileza, a cordialidade, o carinho, enfim, o amor. É na Bíblia também que encontramos palavras que simbolizam esse viver a dois: “Completai a minha alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos.” (Filipenses 2:2) 
          Pensando  dessa  forma, o  jovem  terá mais  firmeza para viver esse período de uma forma mais proveitosa, buscando a felicidade nas pequenas coisas – na família, nos amigos, na Igreja, no grupo de jovens, nas flores e em tudo que o Criador nos concedeu. Sentirá alegria também ao se interessar por alguém e viver um namoro tranquilo buscando o conhecimento da pessoa escolhida através de atitudes simples como conversar, sair, brincar, rezar juntos, participar da comunidade. Assim, se não der certo – o que é normal, pois o ser humano é muito complexo e a juventude é uma fase de descobertas – cada um estará inteiro para recomeçar a caminhada e, no tempo de cada um, buscar outra pessoa e começar outra vez até encontrar alguém com quem partilhar o “mesmo amor, a mesma alma, os mesmos pensamentos”. 
Luisa Garbazza

Publicado no "Informativo Igreja Viva"
Paróquia Nossa Senhora do Rosário
Junho de 2013


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Junho de outrora

Todo ano, junho mostra a que veio apresentando-se, para muitos, como “o mês dos santos juninos”, “mês das quadrilhas”, “mês das fogueiras”, “mês das festas juninas”...  Para outros, junho tem ar de saudade e torna-se carregado de recordações. Volta-se à tona uma nostalgia boa dos tempos de outrora em que tudo era vivido com mais cautela, mais significado e respeito a Deus.
Apesar do frio quase insuportável que fazia, esse mês era um dos mais esperados do ano, principalmente pelas crianças. As datas em que se comemoravam os santos – Santo Antônio, São João e São Pedro – eram aguardadas com entusiasmo renovado. Cada uma delas era celebrada com bastante alegria, normalmente, em casas diferentes pela vizinhança. Minha mãe sempre era convocada para ajudar nos preparativos e “puxar” a reza do terço. Dona Maria sempre estava disponível para colaborar, seja qual fosse a tarefa. Doação total. Não media esforços pelo bem do próximo e pela glória de Deus. Em sua própria casa, ela gostava de festejar São Pedro.
O dia vinte e nove de junho (São Pedro) sempre amanhecia em festa. A participação nos dias treze (Santo Antônio) e vinte e quatro (São João) servia para aumentar a expectativa para esse dia. Logo pela manhã, a meninada, como formiguinhas, esmerava-se na tarefa de limpar bem o terreiro – enorme – que serviria de salão, para receber os convidados. Os mais velhos – ou mais fortes – saíam pelos campos recolhendo paus para serem usados na montagem da fogueira. Tudo, naquele dia, era feito em função do acontecimento da noite.
Uma das tarefas que Dona Maria fazia com primor especial era a confecção da bandeira para ser içada após a oração. Não tinha pressa. Comprava papéis coloridos, dias antes, preparava um quadrado de madeira fina, cobria com um tecido branco e colava ali a estampa do santo. Depois ia confeccionar os enfeites. Recortava cuidadosamente as tiras de papel colorido e, com toda sua criatividade, adornava a bandeira formando delicadas flores e mosaicos multicores. Então, cortava outras tiras, dobrava-as bem dobradinhas para dar um efeito diferente quando desmanchasse as dobras. Pendurava-as na base da bandeira deixando-as soltas e livres. Verdadeiro trabalho de artista. Ficava tão linda que muitas famílias traziam suas bandeiras para ela ornamentar, o que ela fazia com alegria, gosto e presteza.
Quando escurecia e a noite se adiantava, começava a chegar os vizinhos. Acendia-se a fogueira para iluminar a noite escura e aquecer o lugar. Os vizinhos iam se chegando, procuravam um lugarzinho para se acomodar e aguardavam o momento da “reza”. Nesse momento, também, era a Dona Maria que se colocava a serviço. O terço era rezado de uma maneira bem cuidadosa, piedosamente. Ela tinha o dom de motivar as pessoas para aquele momento sagrado mostrando o valor do recolhimento e do respeito pelas coisas de Deus. Não se via ninguém movimentando, não se ouvia barulho, conversas nem gracejos. Todos se concentravam em louvar a Virgem Maria e pedir a intercessão de São Pedro.
Terminando a oração, vinha um momento muito aguardado: hora de levantar a bandeira, que já se encontrava fixada na ponta de um bambu bem alto, cuidadosamente escolhido para aquele lugar de honras. Ao som do “Bendito, louvado seja” a bandeira subia majestosa. As tiras coloridas, impelidas pelo vento, começavam seu bailado multicor, contribuindo para a culminância daquela homenagem. Seguia-se, então, um “Viva São Pedro” e uma salva de palmas, intensificando aquele gesto de louvor.
Depois de cumprido o compromisso com Deus, acontecia uma agradável confraternização. Alguma coisa para comer e beber, as conversas em volta da fogueira, as brincadeiras de roda, os casos – muitas vezes assustadores – contados pelos mais velhos.
Momentos depois, a noite já alta, a lenha crepitando timidamente na fogueira quase apagada, as pessoas iam se despedindo e todos se recolhiam. A bandeira ficava ali, impondo sua presença a todos que passavam. No coração permanecia uma lembrança agradável e a esperança de que o próximo ano chegasse bem depressa e tudo fosse vivido novamente, com os mesmos detalhes, com o mesmo entusiasmo e com a mesma fé.
                             Luisa Garbazza    

Publicado no Jornal "Paróquia" 
Paróquia N. S. do Bom Despacho
 em junho de 2013