sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Um sopro de vida

Contemplo minha mãe
inerte
em uma cama de hospital.
Ausência total.
Nenhum sinal.
Nenhum som inteligível.
Nenhum piscar de olhos ou outro movimento.
Apenas, distante, o som da respiração.
Sensação dolorosa. 
Procuro por uma fagulha de consciência.
Nada.
Chamo uma vez... duas... muitas...
Silêncio.
Respostas não há.
Onde está você, mãe?
Onde está seu sorriso
                 sua paz
                 seu acolhimento
                 sua mansidão?
Onde estão seus conselhos?
Sua palavra amiga a me animar e abençoar? Onde?
Meu olhar continua fixo:
médicos, enfermeiras, padre
soro, exames, oxigênio
antibiótico, sonda, dieta
fralda, nebulização...
E você?   
Lacuna absoluta.
Por onde anda a essência da vida?
Permaneço aqui, quase estática.
Espero sua volta.
Seus olhos abrindo e mirando os meus.
Sua mão apertando a minha.
Sua boca retribuindo meu sorriso.
Sua voz, enfim, pronunciado minha frase preferida:
"Deus te abençoe."
Onde está você, mãe?
Luisa Garbazza
19 de outubro de 2012
tarde / noite em um quarto de hospital.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Vislumbrando Portugal


             Minha primeira imagem a respeito de Portugal foi construída nos bancos da escola. Era um misto de admiração e desprezo. Admiração ao estudar as “Grandes Navegações” e perceber a coragem dos navegantes portugueses singrando mares, descobrindo mundos, desbravando continentes. Desprezo ao conhecer nossa condição de colônia e a história da dominação portuguesa que perdurou por anos e anos. Pela vida afora, tinha em mente apenas esse país distante, desconhecido, desprezado.
            Neste “Ano do Brasil em Portugal” – setembro de 2012 a junho de 2013 – deparo-me com um país tão diferente, nunca antes por mim imaginado. Um país que, acima de tudo, soube preservar suas belezas naturais e mostra exuberantemente suas maravilhas. Encanta-nos os recantos de puro verde dominando a paisagem; os monumentos de pedra que impressionam pela grandiosidade e arte; os parques florestais de verde infinito que se multiplica colorindo o espelho d’água; as ilhas e os montes onde a bruma se confunde com o verde anulando a divisão entre céu e terra.
            Em alguns lugares, o homem se mistura com a natureza e o resultado é de prender os olhos. Uma ponte romana aparece refletida na água formando arcos de perfeita simetria. Os lindos chalés ladeados por muito verde e jardins floridos que, pela simplicidade e beleza, nos remetem aos cenários de contos de fada. Nos montes, as povoações apresentam seu casario branco à beira de lagos de águas límpidas ou no litoral misturando-se com a imensidão do mar. Pelas praças e ruas, construções peculiares ladeadas por jardins vivazes de formas e cores esplêndidas, dignos de poesia.        
            Por lá o homem deixou sua marca de artista em construções gigantescas que, ainda hoje, nos reportam a um tempo de feitos valorosos e significativos. Vemos Mosteiros sobressaindo pela imponência, como a extensão e os jardins do Mosteiro dos Jerônimos ou a curiosa edificação do Mosteiro de Alcobaça; os castelos, verdadeiras fortalezas, cercados por muralhas ou escadarias, aguçam nossa imaginação, nossa fantasia, lembrando as histórias das princesas e príncipes encantados e as lutas da Era Medieval.
            Ali também se conservam as tradições e a riqueza folclórica que atraem portugueses e visitantes, como o desfile dos Gigantões da Vila, a Desfolhada do Milho, a Festa das Colheitas, a Malhada do Centeio e as feiras culturais. Destaque de tradição envolvente e romântica são os Lenços dos Namorados. São mimos delicados, bordados à mão, com mensagens sugestivas de jovens enamorados. Em sua essência, eram bordados com o maior sigilo pelas moças casadoiras e entregues aos pretendentes. Hoje, tornou-se público e são usados também com mensagens diversas de datas festivas.
            Portugal carrega em si uma forte marca de religiosidade. Possui vários templos e santuários marcando a presença de Deus e a devoção do povo. No alto de uma grande escadaria, ladeado por jardins e árvores frondosas e floridas, está o Santuário do Bom Jesus de Braga.  A arquitetura chama a atenção na construção de igrejas diferentes como a Basílica de Santa Luzia. Mas o destaque é para o Santuário de Fátima, um dos mais importantes santuários marianos, onde se reúnem fiéis do mundo inteiro para venerar Nossa Senhora.
            Portanto, o Portugal que hoje vislumbro é um país de lugares fantásticos com cidades ribeirinhas, bem iluminadas, proporcionando um verdadeiro espetáculo de luzes refletidas nas águas; os moinhos de vento, as estações dos Caminhos de Ferro, as províncias, praças e fontes; as bibliotecas situadas em prédios majestosos lembrando os poetas que fingem a dor sentida, analisam a cegueira humana ou falam dos benefícios de substituir a cidade pela vida nas serras, em contato com a natureza; lugar de muitos encantos, cenários de filmes e obras literárias – o Castelo do Monte Leiria e as margens do rio Tejo; outros de pura História, como o Palácio de Queluz, nos arredores de Lisboa, onde nasceu Dom Pedro I – e morreu depois de tantas andanças.
            Realmente é um país de inúmeras belezas! Em tudo isso, o que mais me enleva são as pequenas cidades e vilas pela singeleza e brancura de suas casas, tão próximas! Pelas ruas estreitas, completamente limpas e o verde reinando no espaço maior. A impressão que fica é que ali vive um povo civilizado convivendo em perfeita união com o semelhante e com a natureza. Merece meu respeito e minha admiração.
Luisa Garbazza

Esse é o Portugal que conheci através das páginas do facebook de meu amigo, o professor e escritor Jacinto Guerra.
Obrigada, professor, por essa oportunidade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Manhumirim – berço da Congregação Sacramentina



A Congregação Sacramentina está em festa comemorando o centenário da chegada de seu fundador ao Brasil (1912 - 2012). Várias atividades estão sendo realizadas para marcar essa data tão significativa. Uma delas: reunir um grupo de bom-despachenses para conhecer a cidade onde tudo começou.
O dia – sete de setembro de 2012.
A hora – vinte e duas horas e trinta minutos.
O destino – Manhumirim.
O objetivo – conhecer de perto o berço da Congregação dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora e os feitos de seu fundador – Padre Júlio Maria de Lombaerde.
Assim iniciou-se a peregrinação longa e criteriosamente planejada e realizada pelo padre Antônio Otaviano.  Ônibus cheio; diversidade visível; múltiplos anseios..., mas em comum a simpatia, a alegria, a satisfação pelo encontro e pela convivência. 
Em Belo Horizonte, completou-se uma lacuna com as presenças do Matheus e do Felipe – seminaristas sacramentinos, queridos do povo bom-despachense, exemplos de admiração pelo padre Júlio Maria.
Viagem longa, mas agradável. A alegria da chegada e a recepção calorosa recebida no colégio das irmãs sacramentinas foi o prenúncio do sucesso dessa missão. Ali mesmo, em outros momentos, visitamos lugares de paz e tranquilidade como a gruta de Nossa Senhora de Lourdes, o local com os quadros da via-sacra e outro com Nossa Senhora de Fátima e os três pastorinhos.
A subida para o seminário foi feita com emoção e expectativa. Conhecer o local projetado e construído pelo padre Júlio Maria e saber que ali ele viveu teve um peso muito grande para que o admirássemos cada vez mais. Em tudo havia um sinal forte de sua presença, que se tornou mais intenso no quarto com seus pertences e no memorial, onde pudemos conhecer melhor sua pessoa e suas obras.
Foi uma viagem extremamente prazerosa.  Tudo ali traz à tona a forte presença do fundador. Valeu cada momento desse banho de cultura julimariana.
Valeu a pena enveredar pela vida de um padre que levou tão a sério os ensinamentos de Jesus e não mediu esforços para segui-los. Alguém que, nos poucos anos que viveu no Brasil, deixou-nos um legado valoroso de vida em comum; de humildade e serviço; de amor e valorização da Eucaristia; de carinho e veneração por Maria Santíssima. Foi muito importante visitar os lugares onde esse missionário viveu, trabalhou e lutou pelos mais necessitados numa entrega completa e sincera; e, tão importante quanto, o lugar onde aconteceu o trágico acidente que ocasionou sua morte.
Valeu a pena as boas-vindas recebidas do padre Geraldo Mayrink (Superior Geral dos Missionários Sacramentinos); a conversa amiga e os ensinamentos do padre Aureliano e do Padre Demerval conduzindo-nos através do tempo para entender a vocação do padre Júlio Maria, sua fé e a enormidade de sua obra; a companhia, o entusiasmo, as celebrações e as explicações a nós dirigidas pelo padre Antônio e pelos seminaristas, Matheus e Felipe; a participação nas celebrações da festa do “Jubileu do Bom Jesus” com o tema “Paróquia, rede de comunidades”.
Valeu a pena conviver com pessoas tão agradáveis, que entenderam muito bem o objetivo da viagem e se comportaram verdadeiramente como uma comunidade cristã convivendo pacificamente, dividindo os pertences, respeitando os lugares sagrados, fazendo desse momento uma ocasião propícia para o amadurecimento da fé e da confiança em Deus.
 O objetivo foi cumprido. A volta – com uma demora provocada pelo engarrafamento de final de feriado – aconteceu dentro da normalidade, de maneira bem tranquila. Em cada um de nós, ficou a marca visível do reconhecimento merecido por tão grande servo de Deus. Como bem nos transmitiu o lema da festa do Bom Jesus: “Põe a semente na terra, não será em vão!”, a semente foi lançada. Cabe a cada um de nós ter disponibilidade para preparar o chão, transformá-lo em terra boa, lugar onde a semente germine e dê bons frutos.
 É missão nossa também, disseminar o que aprendemos sobre a vida do Padre Júlio Maria e rezar por sua beatificação. Assim, sua vida de renúncia, de amor, sacrifício, fé não terá sido em vão e em breve ele estará em um altar intercedendo a Deus por nós.
 Luisa Garbazza

Publicado originalmente no jornal "Paróquia" - Paróquia N. S. do Bom Despacho.

* Em especial para meus companheiros de viagem.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

OUTUBRO – MÊS MISSIONÁRIO



           O mês de outubro, mês das missões, abre suas portas de uma maneira muito especial: comemorando santa Teresinha do Menino Jesus. Essa santa, que viveu no século XIX, ofereceu sua vida – de orações, sacrifícios, provações e penitências – à causa missionária. Por isso, foi aclamada pelo papa Pio XI como "padroeira especial de todos os missionários, homens e mulheres, e das missões existentes em todo o universo”.
            A missão sempre esteve presente na vida do povo de Deus, mas se intensificou com a vinda do Salvador – Jesus, o filho de Deus. Ele veio para restabelecer a paz e a comunhão com Deus e formar entre os homens uma comunidade fraterna. Jesus foi missionário por excelência e no período que Ele passou evangelizando, escolheu doze discípulos para continuar seu ministério. Através desses, continua chamando também a nós, um a um, para perpetuar esse gesto. Pelo batismo, todos nós somos enviados a pregar, com amor e fidelidade, o Evangelho de Cristo.
            Durante este mês, somos convidados a viver, com mais intensidade, os ensinamentos bíblicos e assumir nosso papel de cristãos missionários na família, na comunidade e na sociedade. Para tanto, precisamos adorar a Deus e receber a ação do Espírito Santo, pois dele depende toda a ação da igreja. Depois vamos cumprir a tarefa que Jesus nos confiou:Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16:15)
            O nome de Jesus, suas palavras e suas obras deverão ser anunciados em todos os lugares. Neste mês, em especial, somos chamados a refletir sobre nosso comportamento diante disso. É incumbência nossa continuar a obra de Jesus. Nossa função é evangelizar, cada qual segundo os talentos que recebeu. Deus vai aceitar aquilo que fizermos de bom coração. Podemos muito nessa obra missionária: participar de pequenas missões em nossa própria comunidade; rezar pelos missionários e para que Deus envie mais pessoas que abracem essa causa; contribuir financeiramente para custear as missões da Igreja; evangelizar nossa própria família.
            Assim somos convidados a viver diariamente nossa condição de missionários transmitindo a fé em Deus. É muito simples. Para isso, como disse Madre Tereza de Calcutá, basta “ter Jesus no coração e levá-lo ao coração daqueles que precisam”. E podemos ter certeza de que nunca estaremos sozinhos nessa caminhada. Do céu, Jesus nos auxilia realizando sua promessa: "Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 19-20)
            Luisa Garbazza

Originalmente publicado no "Informativo Igreja Viva",
 da Paróquia Nossa Senhora do Rosário.