sábado, 18 de fevereiro de 2012

Momentos felizes

"Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia
 do que viver eternamente em compasso de espera."

     Algumas frases têm o poder de aflorar nossos sentimentos mais profundos. Essa, da qual Leila Ferreira é a autora, proporcionou-me uma reflexão sobre os momentos pelos quais passamos em nosso dia a dia.
      Muitas vezes esperamos um motivo grandioso para sermos imensamente felizes. Ficamos esperando essa oportunidade, às vezes em vão, por muito tempo. Esquecemo-nos de dar valor às pequenas coisas que acontecem em nossa vida e que são motivos de alegria, sim.
      São tantas as ocasiões que nos são apresentadas como motivos para valorizarmos cada vez mais a nossa  vida! É a  presença de um filho, de um esposo ou esposa, da mãe ou outra pessoa amada; uma flor que desabrocha no jardim; uma conversa agradável; uma dádiva da natureza, como o sol pela manhã, um arco-íris depois da chuva ou um luar prateado; uma visita inesperada de alguém especial ou de qualquer pessoa que nos traga alguma boa nova; uma refeição gostosa; e tantas outras.
       Procuremos, então, garimpar o encanto da vida em cada instante de nossa história, para que o existir se torne mais belo e bem-aventurado.
        Vai uma pitadinha de felicidade aí?
       

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Acolhendo os enfermos

          Diante de tantas dificuldades pelas quais passam os mais necessitados detenho-me, de forma mais dolorida, nas dores físicas. Aquelas que “roubam” das pessoas a energia necessária para batalhar pela sobrevivência do dia a dia; que diminuem a esperança de um amanhã vivido com mais alegria; que privam a pessoa até da dignidade, quando faltam meios para se cuidar durante uma enfermidade.
          A lembrança dos enfermos nos remete à precariedade do sistema de saúde no país. Só com a vivência conseguimos entender como é difícil e complicada a maratona de uma pessoa para conseguir socorro nos postos de pronto atendimento. Os médicos disponíveis nessa área não conseguem atender satisfatoriamente a todos os que necessitam de cuidados – mesmo aqueles mais dedicados. Muitos doentes ficam à mercê da sorte, pelos corredores dos hospitais, mendigando um ato de misericórdia para aliviar suas dores, que, às vezes, são tantas! Alguns nem conseguem suportar.
          As dificuldades vividas pelos doentes nos fazem voltar ao tempo de Jesus. Ele os tratava como preferidos. Nas escrituras sagradas temos vários episódios de curas. Surdos ouviram, mudos falaram, coxos começaram a andar... e, mais forte ainda, a cura dos dez leprosos, que puderam se reintegrar à sociedade após um ato de misericórdia.  É Jesus ensinando-nos a tratar o outro com benevolência. Como Deus, Ele nos ensinou a imitá-lo sempre que se colocou a serviço dos irmãos.
          Nessas fases adversas da vida, em que ficamos extremamente fragilizados pela doença ou pela dor de acompanhar alguém que o esteja não é só o corpo que sofre. O espírito também se vê abatido. Há certos momentos em que não conseguimos nem rezar. Deus então envia “anjos” para nos confortar, nos auxiliar e interceder por nós. São pessoas amigas que se colocam à disposição; agentes de diversas pastorais que se dedicam a amenizar o sofrimento; os ministros extraordinários da comunhão que visitam e levam Jesus sacramentado para fortalecer o espírito. São os bons samaritanos, também mencionados nas parábolas de Jesus.
          Algumas vezes deparamos com certas pessoas, que sempre foram “anjos” na vida dos outros, passar por fortes enfermidades. Não conseguimos compreender por que motivo alguém que sempre lutou contra o mal passa por um sofrimento tão intenso e prolongado, que suga a vitalidade lentamente, deixando a pessoa cada vez mais sem forças para reagir. Então, não para entender, mas para aceitar, vêm à lembrança as palavras de São Paulo na carta aos Colossenses: “Completo em minha carne o que faltou à paixão de Cristo”. Jesus sofreu muito ao ser crucificado. A cruz representa Cristo, mas sugere ainda os inúmeros sofrimentos que passamos durante nossa vida. Cristo é também nossa redenção e nos lembra que o amor tudo vence por maiores que sejam nossas dificuldades.
          Sugerido pela igreja, o dia onze de fevereiro, dia da memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria de Lourdes, é “O dia mundial do enfermo”. Foi proclamado pelo Papa João Paulo II e celebrado pela primeira vez em mil novecentos e noventa e três. Em dois mil e doze, em sua XX edição, a igreja nos propõe uma reflexão sobre os “Sacramentos de cura”, ou seja, o Sacramento da Penitência e da Reconciliação, e o Sacramento da Unção dos Enfermos, que culminam na Sagrada Eucaristia. Foi Jesus mesmo quem disse: “Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!”. E para os que questionaram sua atitude: “Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?” 
          Portanto, quando nos sentirmos abatidos pelo sofrimento, coloquemo-nos inteiramente nas mãos do Pai. Só Ele pode nos dar a graça necessária para aceitar essa situação sem revolta e sim com esperança. Unamos nosso sofrimento ao de Jesus, peçamos o alívio para as dores do corpo e do espírito e digamos com confiança: “Seja feita a Vossa vontade, ó Pai, assim na terra como no céu”.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Rotina feliz

        Curioso e intrigante é ver como convivemos com o tempo. Muitos o têm como amigo e outro tanto, quase como inimigo. Alguns são escravos, outros o tratam com indiferença. Há ainda os que querem o tempo sempre ao seu favor. Assim, no dia a dia em que vai se dissipando nossa existência, transparece, pelo menos em algum momento da vida, certa insatisfação a respeito do tempo.
        Em cada fase da vida o tempo tem um valor peculiar. É a infância com seu encanto próprio, horas que passam lentamente, sem indagações, como magia. É a fase da adolescência e da juventude, quando o tempo nunca é suficiente para fazer tudo que almeja. São os adultos aproveitando  cada ocasião para colocar as coisas em seus devidos lugares. E a velhice, época em que se tem a impressão de que o tempo parou. Contudo, na adolescência e juventude a sucessão das horas é mais questionada. Trava-se uma luta severa contra esse inimigo invisível que teima em contrariar as vontades, enganar as previsões, trair os decretos. Tudo nessa fase é urgente. O amanhã é agora. Depois, é tarde demais.
        Um detalhe que me chama à atenção é o modo como os jovens brigam com o tempo. Principalmente com os dias da semana. Ninguém gosta da segunda-feira. Os dias da semana se arrastam numa lentidão enorme deixando todos ansiosos. A sexta-feira é comemorada com palmas, fogos e folguedos. O final de semana passa rápido demais, domingo à tarde já é o fim do mundo. E a segunda retorna - mal amada, triste, pesadona. Parece até que tem culpa de algum infortúnio que possa acontecer, ou não acontecer, na vida de alguém. E quando o final de semana passa e não acontece nada de extraordinário? Ou acontece algo negativo desmoronando algum sonho? Aí, a espera pelo próximo fica ainda mais penosa. A segunda será mais desprezada e cada hora é contada com aflição à espera de uma nova oportunidade.
        Nesse sentido, faz-se necessário uma reflexão sobre tempo e vida. A vida é o nosso dom mais precioso e o tempo é nosso aliado na arte de bem vivê-la. Saber viver bem é valorizar cada dia como único. Valorizar cada hora do dia sem querer que ele se esvazie rapidamente para um novo amanhecer. Agir conscientemente apreciando cada tarefa, tenha a dimensão que tiver. Desde um sorriso dado até o ofício mais complexo, cada ato faz parte do momento de agora e deve ser realizado com alegria e esmero.
        Outro ponto que merece destaque é a rotina. Essa nossa companheira deve ser amada também, por que não? Nossos dias passam rápido, cada um com uma movimentação diferente. Não temos novidades, festas, encontros, baladas, trabalhos, companhias todos os dias. Nem temos resistência para tanto. Necessitamos de períodos de descanso para relaxar o corpo e a mente, para pensarmos sobre nossos atos, para programar o futuro.
     A rotina é indispensável para nossa existência e precisamos aprender a gostar dela. E principalmente gostar do que fazemos. Se hoje é segunda ou terça-feira e estamos sobrecarregados de tarefas, façamos uma a uma, com a cabeça erguida e a certeza de que aquele momento é único em nossa vida. Seja o trabalho mais ínfimo, mas que seja realizado com amor para nos proporcionar o prazer do dever cumprido e nos deixar com a consciência tranquila.
        Nessa passagem exclusiva da vida, quem não gosta da rotina é porque ainda não aprendeu a gostar de si mesmo. A rotina incomoda os que têm dificuldade de conviver consigo mesmo e precisa ter sempre alguém ou algo novo para preencher o vazio deixado pela falta de amor próprio. Enquanto buscarmos nossa realização pessoal em outras pessoas e em outras coisas, de preferência novas a cada dia, a rotina vai ser um fardo por demais pesado e dará trabalho para carregar. Quando percebermos que a alegria está dentro de nós mesmos e na maneira de enfrentar as vicissitudes da vida, cada dia terá seu encanto e seremos muito mais felizes.
Luisa Garbazza
03 de fevereiro de 2012