quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Janeiro – porta aberta para o ano novo

     No imensurável bulício que se forma em torno da passagem de ano, um dos destaques são as crendices, as simpatias. A entrada de um novo ano é sempre esperada e vivida com muita expectativa, talvez a maior de todas. A crença de que a felicidade e as conquistas vindouras dependem dessa festa, impulsiona as pessoas a buscar uma noite mágica, que deve ser vivida em seus mínimos detalhes, às vezes carregada de exageros.     
Tudo isso à espera do mês de janeiro, o primeiro do calendário.
     Janeiro, por si só, já traz suas histórias. Esse mês não existia no calendário, que continha apenas dez meses – quatro nomeados homenageando deuses e seis de acordo com a ordem numérica. O imperador Numa Pompílio acrescentou ao calendário mais dois meses – janeiro e fevereiro, também em homenagem a deuses – no século VII a.C. (Posteriormente, dois meses foram renomeados – julho e agosto – em homenagem a Júlio César e César Augusto, imperadores romanos que fizeram as últimas modificações no calendário.)
     O nome – janeiro – faz uma homenagem a Jano – um deus genuinamente romano. Jovem maduro, Jano comandou um exército, fez muitas conquistas e construiu uma cidade: Janícula. Por ter acolhido o deus Saturno, que viveu no exílio, foi abençoado e agraciado com o dom da prudência e o poder de ver o passado e o futuro. Por isso, sua figura mostra dois rostos em uma só cabeça, em direções opostas. Uma delas observa o passado; a outra, o futuro. O início e o fim. Presidia tudo o que se abria e tudo que se fechava.
     Essa história do deus Jano simboliza muito bem os acontecimentos do final/começo do ano. Tempo de expectativas, de sonhos – concretizados, desfeitos, refeitos – de acerto de contas, de promessas, de tristezas, frustrações e de esperanças. É sempre uma face para o que passou e outra para o que está por vir.
     Por mais que nos esforcemos, não conseguimos nos desligar do passado. Principalmente o passado mais recente. O ano que finda ainda reina, poderoso, fazendo questão de nos mostrar os momentos vividos – bons ou maus. Se vivemos intensamente, construindo algo de positivo, o coração fica cheio e a mente em paz. Porém, as lembranças focam, quase sempre, nos momentos não vividos: as promessas sem cumprir, os compromissos adiados, os desejos reprimidos. E muitos porquês povoam nossa mente. Por que não conseguimos realizar os sonhos? Por que não fomos mais perseverantes? Por que fizemos ou deixamos de fazer alguma coisa? Mas... agora não dá mais tempo. Se ficamos à beira da estrada olhando a vida passar, perdemos as oportunidades, saímos de mãos vazias.
     Então, agarramo-nos à segunda face. Ao futuro. Aos novos sonhos. Depositamos nossos anseios em um recomeço. Buscamos uma nova carga de pensamentos positivos que nos assegurem a realização de nossos ideais. Começamos a enumerar projetos, sonhos e objetivos para o ano novo. “Ano que vem vai ser diferente. Vou levar a vida mais a sério.” E acreditamos que essa é a verdade absoluta. Vislumbramos um futuro bem próximo e muito feliz. A impressão é de que tudo conspira a nosso favor. É só esperar e viver a vida.
     Todavia, com o passar dos dias, percebemos que já não temos tanta convicção de que conseguiremos manter o que nos propusemos. Onde foi parar aquela certeza que nos estimulou a verbalizar nossas aspirações? E, se estivermos desprevenidos, esse confronto com a realidade há de nos deixar vazios e sem esperanças. Não temos, como o deus Jano, o dom de antecipar os futuros acontecimentos. Já não valem as simpatias, as crendices. E agora?
     Agora precisamos acreditar mais em nós mesmos. Acreditar que temos um Deus, Pai todo poderoso, que não nos antecipa o futuro, mas está sempre nos acompanhando, amparando e nos impulsionando a seguir pelos caminhos, sempre retos, que Ele vai traçando para nós, e que nós, às vezes, insistimos em entortá-los, desviar deles ou procurar algum atalho.
     Assim, para que 2012 seja um ano de realizações e conquistas positivas, peçamos a Deus que aumente nossa fé e nossa esperança. Com Ele temos certeza de que a vida vai seguir pelo rumo certo e conseguiremos a paz tão sonhada.
     Feliz ano novo! 

(Crônica publicada originalmente no Jornal A Paróquia Nossa Senhora do Bom Despacho.
  Janeiro de 2012)

domingo, 8 de janeiro de 2012

Seara do Senhor

           Depois de assistir o padre Zezinho cantando a música “O Pacifista” fiquei com esse finalzinho na mente, indo e vindo.
              “Quem não sabe lutar sem rancores
               Pra ver seus valores um dia vencer
               Tem o medo estampado na cara
               E por causa do joio
               Destrói a seara.”
      Muitas imagens vieram-me à mente.
      Nossa sociedade está tão carregada de joio!
      Presenciamos, a todo momento – longe ou perto – barbaridades de toda espécie, praticadas às vezes sem explicação e que nos chocam por sua perversidade.
      O ser humano se encontra tão perdido! Nesse mundo globalizado, em que todos buscam velocidade para tudo, o ritmo normal da vida fica esquecido. Quer tudo ao mesmo tempo e perde muito da beleza da vida. Quer encontrar a felicidade a qualquer custo e por coisas tão banais se esvaziam. De vez em quando ouço alguém dizendo: “Que tédio!”
      E muito se faz em nome desse tédio, que se multiplica, se transforma e ganha proporções cada vez maiores. Ignoram-se os pais, criam-se suas próprias leis, passa por cima de tudo e de todos para atingir os objetivos, às vezes tão egoístas.
      Assim, torna-se fácil esquecer os valores aprendidos e vividos em família. Já não tem convicção das verdades que professava. Tem medo de agir, de lutar pelo que acredita, de propagar o amor a Deus e ao próximo.
      Consequentemente, deixam o joio crescer mesmo sabendo da destruição que ele causará. É mais fácil cruzar os braços e fingir que não está vendo nada, desde que não seja atingido diretamente.
      Por isso é tão importante permanecermos em Cristo, vivermos com Cristo e por Cristo. Ele precisa de nós e deixa isso bem claro quando diz: “Ide e fazei discípulos entre as nações”. E nós necessitamos dele para preencher nossa vida. Devemos nos entregar a Ele e ajudá-lo no trabalho de evangelização do mundo. Precisamos responder ao seu chamado: “Eis-me aqui, envia-me”!
Dessa forma teremos força interior para vencer qualquer tédio e lutar por uma sociedade mais justa, mais solidária, mais fraterna.  Só Cristo é capaz de aumentar nossa fé, nossa esperança e guiar-nos pelas veredas da vida, levando-nos a cultivar a seara do Senhor com paciência, dedicação e fé.
Luisa Garbazza
Informativo Igreja  Viva - Paróquia Nossa Senhora do Rosário
Março de 2013

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tempo das águas

Uma chuva fria marca o início de 2012. Chove há dias, confirmando a tropicalidade de nosso verão. Ora com mais força, ora mais fina, às vezes quase silenciosa, mas constante, sua presença esvazia as ruas nesta segunda-feira.
Pela janela, as retinas fotografam uma tarde cinza. Como um acanhado riacho, a enxurrada escorre, continuamente, no asfalto, próximo à calçada. No jardim, o chão alagado, as folhas bailando impulsionadas pelo vento brando e as rosas que se curvam pesadas, encharcadas. Olhando para cima, as nuvens recobrem todo o céu. A impressão que se tem é que a chuva vai continuar, talvez “para sempre”.
Esse quadro trouxe-me à memória lembranças de minha infância. O cenário era uma casa tosca à beira de um riacho que, em uma grande extensão, jogava suas águas sobre uma laje bem irregular, cheia de altos e baixos, piscinas e paredões. A água era pouca, ocupava apenas um canto da laje e o espaço maior era transformado em área de lazer onde passávamos bons momentos.
Família grande, casal e dez filhos, vivendo em cinco cômodos pequenos com poucos móveis. A cozinha, estreita e comprida, possuía apenas uns bancos, uma prateleira e um grande fogão à lenha. O terreiro da sala era enorme e enriquecido por uma grandiosa árvore que alegrava nossas primaveras com o ouro de suas flores. Um pé de buganvílias vermelhas se debruçava bem próximo à janela. Aquela singeleza transformava-se no paraíso em minha mente infantil.
Como morávamos próximo a uma mata, era fácil conseguir paus secos para serem queimados no fogão, todavia, durante o período “das águas”, a luta pela sobrevivência era complicada. Minha mãe sempre fazia um estoque de lenha para essa temporada. O fogão era usado para cozinhar a comida, esquentar água para banhos e ainda para secar algumas roupas mais urgentes. Além disso, a cozinha transformava-se em ponto de encontro. Todos queriam se posicionar próximo ao fogão, que servia também de aquecedor.
Porém, quando chovia muitos dias seguidos, era o caos. Era preciso sair debaixo de chuva, ajuntar alguns paus e colocar ao lado do fogão para escorrerem, secarem e aí sim, serem usados para alimentar o fogo. Muitas vezes acontecia de faltar lenha seca. Lembro-me da dificuldade para acender o fogo. A lenha molhada não respondia aos apelos de minha mãe. A fumaça invadia a cozinha. Ficávamos ali, amontoados, respirando aquele ar poluído e torcendo para que o fogo surgisse logo, aquecesse o local e as panelas onde seria preparado nosso alimento.
Imagino como deveria ser difícil, naqueles dias chuvosos, a lida de minha mãe, para conseguir roupas (sempre muito escassas) limpas e secas para doze pessoas. Muitas vezes ela permanecia até tarde da noite colocando roupas para secar ao calor do fogo e assim termos o que vestir no outro dia. E o interessante é que não me lembro de tê-la ouvido maldizer a chuva.
E assim, nessa rotina, seguiam os dias. Às vezes, semanas. Valia até apelar para santa Clara, pedindo a volta do sol. Contudo, era só a chuva dar uma trégua, mesmo por poucos minutos, e os siriris começarem a voar, que a meninada saía, corria pelos pastos, subia nos cupins, pisava nas poças d’água e celebrava a vida ao ar livre.
Volto ao presente e constato que o tempo continua chuvoso, as nuvens ainda carregadas e a noite, que ora se inicia, é completamente cinza. No entanto a vida continua e não podemos viver de nostalgia nem deixar o cinza invadir nossos dias. Celebremos, pois, a vida acima de tudo. Que o frio da estação chuvosa possa ser substituído pelo calor humano, pela vida em família e pela alegria renovada de um novo ano. 
                                      

domingo, 1 de janeiro de 2012

"Faça novo o teu ano"

"Neste ano-novo, faz-te novo, reduz a ansiedade, cultiva flores no canteiro da alma, rega de ternura teus sentimentos mais profundos, imprime a teus passos o ritmo das tartarugas e a leveza das garças."
(...)
Mira-te em ti mesmo, assume teus talentos, acredita em tua criatividade, abraça com amor tua singularidade. Evita, porém, o olhar narciso. Sê solidário; ao estender aos outros as tuas mãos estarás oxigenando a própria vida. Não sejas refém de teu egoísmo."
(...)
"Guarda um espaço em teu dia-a-dia para conectar-se com o Transcendente. Deixa que Deus acampe em tua subjetividade. Aprenda a fechar os olhos para ver mellhor."

(Trechos da crônica "Faça novo o teu ano", de Frei Betto - Estado de Minas, 3 de janeiro de 2008)

Como seria bom se todos pudéssemos fazer deste ano um momento único na vida.
Se todos plantássemos na alma um canteiro de belas flores que encantariam a própria vida e a de todos com os quais convivêssemos.
Se Narciso fosse apenas um personagem da ficção e entre nós imperasse a solidariedade e a união.
Se Deus fizesse parte efetiva da vida de cada um de nós.
Assim a vida teria mais significado. Todas essas teorias de ano novo teriam mais chances de se concretizarem.
Poderíamos viver apenas com o suficiente para sermos felizes, sem ganância, sem esse desejo desenfreado de acumular bens, mais e mais. Iríamos mais ao encontro do outro.
Aprenderíamos a "fechar os olhos para ver melhor". E, com certeza, veríamos tudo com os olhos da alma, tornando a vida mais simples, mais plena e imensamente mais feliz.

Um ano novo de interiorização e oração, de muito amor e muita fé para você.
Faça deste o ano mais importante de sua vida.
Um abraço e meu desejo de um mundo mais irmão.

                                                                                     Luisa Garbazza
                                                                                                      01/01/2012