quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Três desejos do Papa

Bento XVI formulou três desejos antes de acender as luzes de uma árvore de Natal.

O Meu primeiro desejo é que o nosso olhar não se detenha somente no horizonte deste mundo, nas coisas materiais, mas que se dirija para Deus.

O segundo desejo é que nos recorde que também nós necessitamos de uma luz que ilumine o caminho da nossa vida e nos infunda esperança, especialmente nas épocas em que sentimos com mais força o peso das dificuldades.

O último desejo é que cada um de nós transmita luz nos ambientes em que vive.
                                                                         (Bento XVI, 7-12-2011)

Meditando essas palavras de nosso querido papa, muitas são as reflexões...
Como seria bom, Senhor, se esses fossem os desejos da humanidade toda!
Cada ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, transmitindo luz nos lugares por onde passar. A luz verdadeira, a luz que ilumina os passos das outras pessoas e, consequentemente, de quem a acende.
Seria bom se pudéssemos viver e sentir em todos, o amor como o autêntico sentido do Natal. Constatar que os sentimentos conseguiram dominar os corações deixando os bens materiais em segundo plano. Valorizar sempre mais o ser.
E, melhor ainda, seria perceber que Deus, a luz maior, está acima de qualquer coisa. Que a luz divina consegue iluminar e aquecer o coração de cada pessoa enchendo de esperança o dia a dia de todos os homens de boa vontade.
Aí, sim. O espírito do Natal preencheria nossos lares, nossas empresas, nossas repartições públicas, nossas cidades, nosso país. E reinaria a igualdade, a solidariedade, o amor e uma paz muito grande.
E glória a Deus nas alturas e no meio de nós.
Então?
É Natal.


Feliz Natal, com a presença constante do Menino Deus em sua vida.
Que 2012 seja o melhor ano de sua vida. 
Meu abraço.
                   Luisa Garbazza

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A magia de um instante


Na rotina do meu domingo sempre consta uma visita ao supermercado. São compras de última hora, mas imprescindíveis para o almoço em família. Nesse último domingo não foi diferente. Por volta das dez horas, paramos – meu marido e eu – no estacionamento do comércio em que faríamos nossas compras. E tudo teria transcorrido seguindo a velha rotina, não fosse uma cena que se formou e se desenvolveu diante de meus olhos.
Defronte ao estacionamento, em um ponto de ônibus, localizado em um terreno abandonado, cheio de mato e entulhos, um senhor aguardava o horário da condução em companhia de uma menina. Estavam sob a sombra de uma frondosa mangueira, abrigando-se dos raios castigantes do sol. A menininha, aparentando uns três anos, parecia cansada de ficar em pé e lançava ao homem – pai? – um olhar de súplica que não passou despercebido aos meus olhos. Nem aos olhos do pai, que mirou aquele corpinho miúdo, com seu vestidinho rosa, um chinelinho minúsculo e o cabelinho amarrado no alto da cabeça. Parecia uma bonequinha distribuindo ternura, tamanha a simplicidade de sua existência.
Sem falar nada, aquele homem, que segurava delicadamente a mão da menina, soltou-a e andou por trás da mangueira, como se procurasse alguma coisa. Seu jeito humilde e seu traje simples se confundiam com o ambiente. Em um dado momento, ele se agachou, levantou uma pedra do chão, voltou para junto da menina e colocou a pedra ao lado dela bem devagar. Passou a mão várias vezes retirando as impurezas de cima da mesma.
Então, suavemente, segurou aquela mãozinha tão pequena e conduziu a garotinha para que ali se sentasse. Não sei o que se passou na mente e no coração dela, mas o que transpareceu foi a sensação de ser a pessoa mais importante do mundo naquele momento. Alisou o vestidinho, colocou as mãozinhas no colo e lançou um olhar tão terno para o pai, como só uma criança é capaz de fazê-lo.  O pai devolveu-lhe o olhar e sustentou-o demoradamente, observando aquele rostinho tão alegre, sentindo-se orgulhoso por ter proporcionado um pouco de conforto para a filha.
Senti-me embevecida de ternura com aquela cena. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas e meu coração pulsou mais forte dentro do peito. Encantamento por aquele momento mágico, saudade dos meus filhos pequenos, esperança na vida e uma inércia, pelo medo de perder a magia daquele instante.
Entramos no supermercado para fazer nossas compras e quando voltamos os dois já não estavam mais lá. Mas o quadro desenhou-se novamente em minha memória. Fiquei ponderando sobre a naturalidade do acontecido e de como fiquei sensibilizada. Comecei a pensar na complexidade da vida moderna, no emaranhado de coisas que as pessoas criam para agitar o dia a dia. Como as pessoas colocam a felicidade nas coisas materiais. – Ah, vou ficar muito feliz quando der conta de comprar meu som... minha televisão... meu carro... e a lista nunca tem fim. Percebi o quanto damos valor às coisas e nos esquecemos das emoções, dos sentimentos, da palavra amiga, da cumplicidade de um olhar. Como a vida seria diferente se valorizássemos mais a essência do ser humano do que a aparência e as posses de cada um.
Voltei para casa sentindo-me mais sentimental que de costume. Todo o meu dia foi preenchido por aquela imagem que teimava em voltar à minha mente. A delicadeza daquele gesto, eu sinto, vai me acompanhar por um longo tempo. Quem sabe até pela vida toda. Pude perceber como muitas pessoas, que às vezes pensamos serem dignas de dó, são bem mais felizes do que nós e confirmam a frase que sempre é dita, mas, talvez, não sentida como deveria: “A felicidade está nas coisas mais simples da vida”.
 Luisa Garbazza

Essa crônica foi publicada originalmente no jornal 
"PARÓQUIA  N. S. do Bom Despacho" 
no mês de dezembro de 2011.